Familiares advogados e comparsas do PCC entram na mira da Polícia Civil do DF

Foto divulgação

A menos de um mês para a conclusão da obra da penitenciária
federal que é erguida em território brasiliense, a Polícia Civil do Distrito
Federal ligou o sinal de alerta. É que o complexo, a ser entregue em setembro,
deve receber integrantes da cúpula de uma das mais perigosas organizações
criminosas do Brasil. O iminente desembarque em Brasília de presos ligados
ao Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção em atividade
no país, levou a PCDF a monitorar toda a estrutura que costuma acompanhar
esses detentos, incluindo familiares, advogados e comparsas.

Foto: G1

Os investigadores temem que a chegada de figurões do PCC transforme o
cenário da criminalidade local, intensificando ações e tornando-as ainda mais
violentas. Eles consideram que crimes como roubos a bancos, sequestros mediante
extorsão e atentados contra delegacias e transportes coletivos, promovidos com
frequência pela facção nos estados brasileiros, podem ocorrer também no DF.

Temos esse receio.
Por isso, daremos início a um minucioso monitoramento para identificar pessoas
que podem entrar em contato com a célula do PCC no DF, que, por
enquanto, está completamente neutralizada.” Afirma o
investigador da PCDF, que pediu anonimato para
não atrapalhar o trabalho de inteligência da corporação.

Atualmente, os resquícios da organização criminosa em Brasília não têm o
apoio dos líderes que estão em São Paulo. “Algo semelhante ocorreu em cidades
no interior paulista, quando os presídios federais abrigaram membros da cúpula
do PCC e começaram a ocorrer crimes graves, que antes não eram registrados.
Queremos evitar que isso aconteça no DF”, reiterou o policial.

Segundo as investigações iniciais, há grande
movimentação de “apoiadores” todas as vezes que integrantes da facção são
transferidos entre os presídios federais espalhados pelo país. O séquito é
responsável por montar a estrutura necessária para que os bandidos, de dentro do
cárcere, continuem no comando das ações do PCC. Portanto, o “trabalho” dos
apoiadores é o que viabiliza a comunicação dos detentos com pessoas fora do
sistema prisional e com comparsas detidos em outras prisões.

Foto reprodução Twitter

Com isso em mente, o monitoramento conduzido
pelos policiais civis brasilienses será focado em nomes ligados a figurões da
facção que podem acabar vindo para o DF, como Marcos Willians Herbas Camacho, o
Marcola. A história do PCC em Brasília começou justamente com ele, em 5 de
março de 2001, após o chefe máximo da organização desembarcar em terras
candangas.

Depois de peregrinar por diversos presídios do país, Marcola foi
recolhido ao Centro de Internação e Reeducação (CIR), no Complexo Penitenciário
da Papuda. Apesar de a estadia ter sido curta – ficou preso até 8 de fevereiro
de 2002 –, a passagem de Marcola pela capital deixou marcas profundas, tanto na
mentalidade da massa carcerária quanto na Segurança Pública do DF.

No curto período em que esteve na Papuda, Marcola fundou um braço do PCC
chamado pelos criminosos de Partido Liberdade e Direito (PLD). Investigadores
da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco), da PCDF,
identificaram que a facção havia sido criada nos mesmo moldes da organização
criminosa paulista, inclusive em relação às regras contidas em seu estatuto.

O grupo definiu uma série de terminologias
para facilitar a comunicação dentro da Papuda. As ordens da cúpula eram
transmitidas de dentro dos presídios pelos “torres”, criminosos responsáveis
pelo repasse de informações aos “pilotos”, presidiários escolhidos para
coordenar os integrantes do PCC que estavam atrás das grades.

Foto divulgação

O
especialista em Segurança Pública George Felipe Dantas analisou o cenário que
poderá se instalar no DF com a presença de integrantes do PCC cumprindo pena no
presídio federal. De acordo com ele, a facção tem capacidade para se infiltrar
em diferentes setores da sociedade civil e até do próprio governo.

O carro-chefe
desta facção, ao que tudo indica, segue sendo o narcotráfico. Isso inclui,
basicamente, a distribuição de drogas aos usuários, o que abarca uma gama de
outros crimes associados, como tráfico internacional, roubos, furtos,
receptação, prostituição e corrupção de menores.” Disse
George Felipe Dantas, especialista em
Segurança Pública.

Segundo Dantas, a lavagem de dinheiro também acaba sendo feita nas
cidades onde os integrantes do PCC cumprem pena. Os criminosos promovem a
aquisição de bens móveis e imóveis com o dinheiro sujo. São obras de arte,
veículos de luxo e organizações comerciais, além de patrimônio, que servem
para simular legalidade e legitimidade.

“Na medida em que passam a estar empoderadas pelo poder econômico, essas
facções, eventualmente, chegam a controlar não só a própria população prisional
como também seus familiares, amigos e advogados”, detalhou George Felipe
Dantas. “Elas provocam uma influência nefasta, que pode atingir até mesmo
agentes prisionais”, ressaltou.

Em abril deste ano, o diretor-geral do Departamento Penitenciário
Nacional (Depen), Marco Antonio Severo, visitou as obras do presídio federal,
que fica próximo à Papuda e terá capacidade para abrigar 208 internos. Foram
investidos R$ 40 milhões.

Na oportunidade, Marco Antonio Severo confirmou que presos de facções
criminosas detidos em outros estados devem ser transferidos para o DF. Ele
descartou, no entanto, o risco de que essas organizações se consolidem em
Brasília, uma vez que os detentos permanecerão isolados. Além disso, eles serão
remanejados periodicamente entre as cinco penitenciárias federais em
funcionamento no país.

A cadeia contará também com um espaço exclusivo para mulheres, pois,
conforme explicou Severo, “no cenário nacional do crime organizado, cada vez
mais se verifica a presença de mulheres exercendo papel de liderança, de chefia
de facções criminosas”.

(Metrópoles/redação JAL)

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