Ronaldo Caiado está em movimento ativo na pré-campanha presidencial e já testa mensagens e motes junto ao eleitorado. Em entrevistas, manifestações públicas e articulações nos bastidores de Brasília, ele vem afinando o discurso de pré-candidato à Presidência da República — e, mais que isso, ensaiando uma narrativa central: a de que o Brasil precisa de um presidente com autoridade real, que governe com autonomia e não se ajoelhe diante do Congresso Nacional.
É um discurso direto, simples, sedutor — e politicamente calculado. Em um país onde o modelo de presidencialismo de coalizão é constantemente criticado por analistas e pela população, Caiado tenta se apresentar como o anti-sistema que conhece o sistema por dentro.
Desde os anos 1980, estudiosos como Sergio Abranches descrevem o Brasil como um caso anômalo: um presidencialismo com multipartidarismo extremo, no qual o Executivo depende de alianças frágeis e de uma base fisiológica para governar. Caiado rejeita esse modelo. Mas, até o momento, ainda não apresenta um substituto claro.
A crítica é conhecida e até esperada. O que falta é a proposta. Sua visão de um presidente forte pressupõe menos espaço para o balcão de negócios do Legislativo e mais concentração de poder no Executivo. Isso atrai eleitores frustrados com corrupção, crises políticas e impasses sem fim. Mas levanta um dilema fundamental: como fazer isso dentro da Constituição?
Não está claro se Caiado pretende:
Propor uma reforma política de fato;
Apoiar o semipresidencialismo, como sugerido por Sarney, Temer e outros;
Reduzir o poder das emendas parlamentares e rever o pacto federativo;
Ou apenas ampliar a margem de manobra do presidente, na prática, sem alterar o modelo formalmente.
Por enquanto, ele nega o que existe, sem construir com nitidez o que viria depois. Fala como quem viveu as amarras do sistema e se coloca como o único capaz de enfrentá-lo. O problema? Pode soar mais como retórica do que como projeto de país.
Caiado ainda está testando o tom e a receptividade. O discurso de autoridade pode atrair o eleitorado conservador e parte dos órfãos do bolsonarismo. Mas, sem um plano institucional concreto, corre o risco de ser apenas mais uma crítica barulhenta ao sistema, e não uma alternativa real a ele.
Caiado acerta na crítica, mas tropeça na solução. Ao apostar na imagem de um presidente forte, ele toca num nervo exposto da política brasileira: a rejeição ao fisiologismo e à paralisia do sistema. Mas sem apresentar uma alternativa institucional clara, seu discurso pode virar apenas mais um grito no vácuo — firme no tom, frágil no conteúdo.ValdivinodeoliveiraDRT001423/GO fotodivulgaçao