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Christopher João dos Santos Souza, de 22 anos,
homem trans, e Wanda Marques Araújo, de 26 anos, mulher trans, se conheceram no Centro de Referência Especializado da
Diversidade Sexual, Religiosa e Racial (Creas Diversidade). O casal está
preparando os papéis para o casamento.
Chegar a esse ponto foi um longo caminho, possível
apenas, segundo eles, graças ao apoio psicossocial do centro de referência
ligado à Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade
Racial e Direitos Humanos.
Christopher e Wanda recebem atendimento há mais de
um ano no local. Quando ele chegou, estava passando por um processo de
automutilação e dificuldades emocionais em virtude das violências que sofreu
após ter assumido sua identidade de gênero.
Wanda veio de São João d’Aliança (GO), mas, antes
de morar em Brasília, já frequentava o Creas em busca de informações sobre a
retificação do nome e sobre atendimento médico para uso de hormônios.
Com dois assistentes sociais, dois agentes sociais,
dois psicólogos, um educador social, um agente administrativo e um motorista, o
Creas Diversidade funciona na 615 Sul, atendendo casos de vulnerabilidade de
pessoas que sofreram discriminação étnico-racial, sexual ou religiosa.
O centro oferece ajuda jurídica, psicológica e de
assistência social. No local, Christopher e Wanda conseguiram trocar os nomes
de nascimento pelos nomes sociais em documentos como carteira de identidade,
CPF e título de eleitor.
O atendimento jurídico do Creas conta com a
parceria da Defensoria Pública do
Distrito Federal. O órgão disponibiliza dois defensores que prestam
atendimento a cada 15 dias.
A estudante de administração Rubi Martins dos
Santos, de 29 anos, mulher trans, é uma das pessoas atendidas pela defensoria
pública. Ela conta que se sentiu muito amparada no centro de assistência e que
tirou dúvidas sobre documentos.
Rubi também recebe atendimento psicológico e diz se
sentir mais confiante para lidar com o preconceito sofrido diariamente. “Vejo
aqui como um porto seguro. Parece que eles entendem nosso problema”.
Esse amparo é um dos pontos fortes do Creas,
acredita a assistente social Mirella Martins Oliveira, que trabalha no centro
desde 2013 e é uma das pessoas responsáveis pelo primeiro contato com quem
chega em busca de atendimento. “De fato, a gente procura dar esse acolhimento
reconhecendo aqui como um espaço de direito deles. Aqui é a porta de entrada, a
partir disso eles vão se sentir protegidos”, diz.
Christopher e Wanda, por exemplo, participaram de
uma oficina de grafite em janeiro deste ano. Depois disso, criaram o grupo de
grafiteiros Trans – segundo eles, o primeiro do Brasil.
Um dos grupos de apoio é o de mães. O Creas oferece
esse atendimento em parceria com a ONG Mães pela Diversidade. Christopher conta
que, quando a mãe dele começou a participar, a relação entre os dois melhorou
muito. “Quando minha mãe disse ‘filho’ pela primeira vez, foi uma vitória”.
De acordo com a coordenadora do centro, Ana
Carolina Silverio, o número de atendimentos relacionados à transfobia é o mais
alto, porque essa parcela é a mais marginalizada.
Segundo ela, gays e lésbicas se tornam “invisíveis”
se quiserem. Já o transexual ou o travesti, “por ser identificado logo de cara,
sofre mais com violências”.
“O nosso trabalho é trazer o exercício pleno da cidadania
para que essas pessoas possam acessar todos os equipamentos públicos e seus
direitos”, enfatiza Ana Carolina.
Em solenidade na sexta-feira (23), Rodrigo Rollemberg assinou o decreto que regulamenta a lei anti-homofobia (Lei
nº 2.615, de 2000), de autoria da então deputada distrital Maninha e de
coautoria do governador quando ele era parlamentar.
Também foi assinado decreto de criação do Conselho
Distrital de Promoção dos Direitos Humanos e Cidadania de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Nesta segunda-feira, a Câmara Legislativa editou
decreto revogando a regulamentação do Executivo. O governo de Brasília vai recorrer da decisão.
(Conteúdo Agência Brasília/redação JAL)