O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), por meio da Promotoria de Defesa dos Usuários de Saúde (Pró-Vida), investiga casos de violência obstétrica e lesões em recém-nascidos no Hospital Regional do Gama (HRG). A denúncia surgiu após laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontar registro da manobra de Kristeller em prontuário de gestante durante parto vaginal.
A prática tem como objetivo de acelerar o trabalho de parto com pressão sobre o útero da mulher. A técnica, considerada obsoleta, é proibida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido ao potencial danoso para a gestante e para o bebê. A conduta é investigada em inquérito policial.
Em 23 de maio, o Metrópoles publicou reportagem sobre investigações contra o médico João Luiz Vinhal Júnior, do Hospital Regional do Gama. O ginecologista responde pelo menos dois processos por violência obstétrica, após ser acusado de usar a manobra de Kristeller e episiotomia lacerante, prática em que o médico faz corte entre a vagina e o ânus a fim de facilitar o nascimento do bebê.
O MPDFT também apura indícios de omissões graves de anotação no prontuário de pacientes. De acordo com a promotora Alessandra Morato, as omissões de anotações no prontuário das pacientes dificultaram aos peritos do IML a identificação da causa das lesões irreversíveis. A anotação em prontuário é obrigação da equipe médico-assistencial Além disso, o Código de Ética Médica veda qualquer omissão de informação clínica.
O Hospital Regional do Gama também é investigado por não apresentar o partograma das gestantes. O documento, representação gráfica do trabalho de parto, é considerado obrigatório pela Organização Mundial de Saúde, além de reconhecido pelo Ministério da Saúde como fundamental para o diagnóstico precoce das intercorrências danosas no trabalho de parto.
Sofrimento fetal
Em um dos casos investigados pelo MP, a criança foi diagnosticada com síndrome de alterações cerebrais, causada por falta de oxigenação no nascimento. Os pais do bebê alegam que as sequelas são resultado de negligência no Hospital do Gama, falta de monitoramento do trabalho de parto e sofrimento fetal.
O Metrópoles revelou que a filha de uma das mulheres que sofreu violência obstétrica nasceu com um problema na perna. O Hospital do Gama não soube informar à mãe se a deficiência foi motivada pela negligência médica durante o parto. Ainda hoje, a criança sente dores e tem problemas para andar. A mãe refere-se à experiência como “um parto anormal” e luta contra sequelas físicas e psicológicas.
Metrópoles