É possível viver sem estresse? Nos centros urbanos, pelo menos, parece impossível. A carga ou o ambiente de trabalho, relações tóxicas, grandes responsabilidades, rotinas exaustivas, contas a pagar e desequilíbrios emocionais afetam milhões de pessoas, em todo o mundo. O estresse é uma resposta natural do corpo para essas situações desafiadoras Mas quando ele persiste por longos períodos ou se torna crônico, pode ter efeitos adversos significativos na saúde mental e física. Por isso, é importante compreender suas consequências para buscar maneiras de prevenir e gerenciá-lo de forma saudável.
“O estresse crônico pode levar ao desenvolvimento de várias condições de saúde, como doenças cardíacas, distúrbios gastrointestinais, depressão, ansiedade e comprometimento do sistema imunológico. Portanto, é essencial gerenciar o estresse de forma adequada para prevenir esses efeitos adversos”, explica a psicóloga do SESI, Patrícia Marinho.
Os sinais de estresse
Entre os efeitos perceptíveis de uma vida estressante estão os distúrbios do sono, como a dificuldade de dormir (insônia) ou de acordar. Eles podem ser acompanhados por problemas de concentração e tomada de decisões, afetando negativamente o desempenho acadêmico e profissional. Uma boa noite de sono contribui para um sistema imunológico mais forte, a preservação da memória, o bom humor e a produtividade.
Altos níveis de estresse também podem causar mudanças na frequência cardíaca (arritmia), devido à liberação do cortisol, um hormônio que produzimos para controlar o estresse mas, quando em excesso, tem efeito contrário, podendo aumentar as chances de desenvolvermos depressão, fadiga, diabetes, irritação, ganho ou perda de peso, falta de libido ou alteração do ciclo menstrual, por exemplo.
Também é comum que pessoas submetidas ao estresse crônico sintam dores de cabeça ou musculares, tensão na região do pescoço e na coluna, ou ainda Disfunção Temporomandibular (DTM), que é a dor causada pela tensão na articulação da mandíbula (a famosa ATM)..
Hora de agir – comece com o simples
A boa notícia é que há muitas formas de evitar ou gerenciar o estresse. Mas, antes de tudo, é preciso ter a consciência de abandonar hábitos que apenas “maquiam” o problema, como explica a psicóloga Patrícia Marinho: “Muitas pessoas usam álcool e drogas no alívio do estresse e isso deve ser evitado, bem como a automedicação”.
De fora para dentro
A fala da profissional também nos direciona para a primeira e mais simples atitude: ter atenção ao que você consome: uma alimentação saudável, com dieta equilibrada, ajuda a limpar o corpo de toxinas que possam aumentar os efeitos do estresse. Uma dica é evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool e alimentos processados. Muita cafeína no organismo pode deixar uma pessoa mais propensa a se sentir irritada.
Reserve um tempo para praticar alguma atividade física que pode ser leve, como uma caminhada ou uma corrida, até outras mais moderadas, como natação, yoga e ciclismo. Dependendo da sua intenção, pode aderir a atividades mais intensas, como futebol, artes marciais e musculação. Mas, em todos os casos, a orientação de um profissional é indispensável, como explica a educadora física do SESI, Keila Celestino:
“Os exercícios, especialmente os aeróbicos (correr, nadar, pedalar, dançar etc), promovem alterações a nível cerebral, como aumento do fluxo sanguíneo, crescimento neural e redução de processos inflamatórios, liberando hormônios como endorfinas, que promovem a sensação de bem-estar. Assim como em qualquer tipo de exercício que gera uma contração rítmica da musculatura, são aumentados os níveis de serotonina, um neurotransmissor que influencia direta e indiretamente as células cerebrais relacionadas com o humor, o que ajuda a combater pensamentos negativos”, explica.
De dentro para fora
Um dos caminhos para gerenciar o estresse e ter mais qualidade de vida é a prática da meditação através de várias técnicas, como a respiração consciente e a atenção plena (ou mindfulness). Nesta última, há exercícios em que a pessoa desenvolve a capacidade de se concentrar no presente, nos sentimentos e nas sensações do “agora”, deixando de lado as preocupações com o passado e o futuro. Engana-se quem pensa que é necessário passar muito tempo em cada meditação. É possível começar com pouco, apenas cinco minutos por dia. Quando a pessoa se habitua às práticas, é possível levar a mesma técnica para fora do momento de meditação, para o dia a dia, ajudando a controlar o estresse e a ansiedade.
É preciso também aprender a dizer não e a estabelecer limites, tanto nas relações de trabalho quanto na vida pessoal. Isso é importante para reduzir a sobrecarga. Ligada a esta atitude também está a decisão de manter relacionamentos saudáveis e construir uma rede de apoio para compartilhar preocupações e sentimentos. “É importante buscar essa rede de apoio, ter amigos e uma válvula de escape, além de equilibrar trabalho e vida pessoal: descansar nas horas de descanso; trabalhar no horário de trabalho”, diz Patrícia.
Texto: Richell Martins/g1