Era preciso estancar a sangria, como se disse à época. Então, o Congresso derrubou a presidente Dilma Rousseff, assumiu o vice Michel Temer, elegeu-se Jair Bolsonaro na onda do combate à corrupção, a Operação Lava Jato começou a ser sufocada e os políticos finalmente voltaram a respirar aliviados.
Como são as coisas. Para contrariedade do PT, Dilma deu a maior força à Lava Jato, que culminou com a prisão de Lula. Na contramão do que prometera em campanha, Bolsonaro aplicou um torniquete no combate à corrupção e livrou-se rapidamente da companhia do ex-juiz Sergio Moro, que virara seu empregado.
Os bolsonaristas, porém, não quiseram ver que seu comandante em chefe baixara a bandeira com a qual nunca tivera o menor compromisso. Basta ver como ele e os filhos construíram seu patrimônio. Foram os governos do PT que deram as condições para a luta contra a corrupção, que acabou por engoli-los.
Entretanto, foi o bolsonarismo que herdou a marca da “corrupção, nunca mais”. Não lhe importa que ela tenha sido estuprada pelo governo que teve seu apoio e que por pouco não foi prorrogado. A marca não deixará de existir e seguirá rendendo votos. Se não para o líder caído, certamente para quem o suceder.
As forças que hoje governam o país devem estar atentas a isso. Ao menor vacilo, poderão voltar a ser alvo de denúncias que afetarão sua imagem, ofuscando as boas iniciativas que possam tomar, que já estão tomando. Todo cuidado é pouco. A opinião pública troca de cama com a mesma naturalidade com que troca de roupa.
O que falta, por exemplo, para que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, seja mandado embora? Que ele confesse serem verdadeiras todas as acusações que o estão reduzindo a pó? A mais inocente delas dá conta do uso de avião da FAB e de recebimento de diárias para cumprir uma agenda privada em São Paulo.
Dos quatro dias que passou por lá, em apenas dois, e por duas horas e meia, ele teve compromissos oficiais, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. O restante do tempo foi todo dedicado a participar de atividades envolvendo cavalos de raça, incluindo a participação em um leilão em que expôs um dos seus animais.
O ministro escondeu da Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 2 milhões em cavalos de raça. Quando deputado, Juscelino destinou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à sua fazenda e à sua pista de pouso privada, no município de Vitorino Freire, no Maranhão.
Lembremos: ao assumir a Presidência da República, Lula aconselhou seus ministros a se cuidarem, porque ele não toleraria desvios de conduta. Cumpra a palavra.
Metrópoles