Onças podem atacar de novo em Valparaíso

Especialista em comportamento animal do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, professor Eduardo Bessa analisa o caso ocorrido em Valparaíso (GO) e diz que não é comum ataque de felinos em bando

Foto: Fundação Florestal

Cinco dias após o ataque de onça que deixou 14 animais mortos em uma propriedade de Valparaíso (GO), e um prejuízo de R$ 15 mil, o felino não voltou a incomodar os moradores da região. No entanto, o especialista em comportamento animal Eduardo Bessa, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB) afirmou ao Correio que, “depois de uma refeição volumosa como a relatada, é de se esperar que a onça só volte a caçar dentro de 10 a 14 dias”, avisa.

Bessa faz uma ressalva: O ataque ocorrido no município goiano destoa de uma ação clássica de felino de grande porte. “Não é comum este tipo de comportamento na espécie (onça). O que foi descrito de caçar em bando não soa nada como onça”, avalia o especialista. Mesmo que uma seja a mãe e um filhote — já que moradores relataram uma pegada grande e outra menor —, Eduardo classifica a situação como “incomum”.

Para o especialista, a melhor opção é deixar os predadores em paz e proteger os próprios animais. “É importante lembrar que a suçuarana é um animal silvestre protegido por lei. E se acuado, fica agressivo. O ideal é deixar o animal em paz e apenas impedir o acesso deles aos animais de criação, ao mesmo tempo em que se deve preservar as matas onde o animal possa viver e caçar sem interferir com a pecuária”, explica o professor de zoologia da Universidade de Brasília.

Eduardo Bessa dá outras dicas sobre como proteger a propriedade de eventuais ataques externos. “Manter as ovelhas em contenção segura durante a noite é o ideal. Cães também podem ajudar a afastar predadores”, afirma o especialista.

O professor também acredita que o ataque, se for de onça, tenha sido com a única finalidade de matar a fome. “Onças pardas são animais muito generalistas, que comem uma grande variedade de presas, especialmente em ambientes muito impactados, onde os alimentos naturais estão mais escassos. Diria que não há possibilidade deste ataque não ser para alimentação”, analisa.

Entenda o caso
Os moradores da região de chácaras do Parque Marajó em Valparaíso do Goiás estão assustados desde a última terça-feira. Durante a madrugada, 14 ovelhas foram mortas e três feridas no que, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do município, foi um ataque de duas onças à propriedade de Eunice Vieira, 47 anos. O estrago só foi visto pela manhã e os animais responsáveis não foram encontrados até a tarde de ontem.

De acordo com o governo local, o ataque aparenta ter sido de um felino de porte grande e um menor. Acredita-se que ambas sejam onças pardas.

A área onde ocorreu o ataque fica entre a cidade, uma área de cerrado preservado e lavouras de soja mais depois da mata.

Na última sexta-feira, o biólogo PhD em neurociência Fabiano de Abreu levantou a hipótese de as onças terem sentido o território ameaçado e por isso o ataque teve estas proporções.

Memória
Altiplano Leste

Duas éguas foram atacadas, supostamente por uma onça, em um haras de Altiplano Leste, no Paranoá, e assustou moradores da região em 13 de fevereiro de 2022. Um dos animais foi encontrado ferido e o outro, morto embaixo de uma árvore, com uma mordida no pescoço e outra na região da barriga. Na ocasião, 11 galinhas foram mortas. Equipes do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) chegaram a buscar por uma onça suspeita de atacar outros bichos na região, mas não obtiveram êxito.

Planaltina

Animais de uma fazenda de Planaltina foram vítimas do ataque de uma onça-parda, em 5 de outubro do ano passado, quando matou um carneiro. O Batalhão de Polícia Militar Ambiental do Distrito Federal (BPMA-DF) recebeu a informação que, por volta das 6h30, o animal estava em um curral nas instalações de uma unidade de ensino da cidade.

Ao chegar no local, os policiais viram que o felino estava em um curral, capturaram o animal e o encaminharam ao Zoológico de Brasília para ser examinado por um veterinário. O felino chegou agitado ao local, recebeu alimentação e foi levado ao Hospital Veterinário do Zoológico de Brasília (HVet/FJZB) para fazer exames clínicos.

Lago Oeste

Em 9 de outubro de 2017, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) capturou uma onça-parda, também conhecida como suçuarana. O animal estava em uma chácara do Lago Oeste, em Sobradinho, e se abrigou nos galhos de uma árvore de uma residência. O resgate mobilizou 10 policiais que trabalharam em conjunto para pegar o bicho, que foi sedado. Na época, a suçuarana foi encaminhada ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) para passar por exames. Em seguida, foi solta na natureza.

Correio Braziliense

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