Professores de escola em Planaltina denunciam medo de violência

Ameaças de massacres e supostas armas brancas encontradas no CED Dona América Guimarães preocupam os docentes

Foto Reprodução

A onda de violência nas escolas do Distrito Federal segue como um dos temas principais da educação distrital em 2022, preocupando pais, alunos e também profissionais de educação. Em Planaltina, no Centro Educacional Dona América Guimarães (CEDDAG), localizado no bairro do Arapoanga, professores denunciam de forma anônima o medo de casos violentos de alta gravidade, e desejam que ações sejam feitas para aumentar a segurança na unidade.

De acordo com o relato de professores da escola, que com medo de represálias preferiram não se identificar, os alunos da instituição comentam regularmente sobre a possibilidade de haver um massacre dentro da unidade, além de que, supostamente, alguns estudantes transportam armas brancas para a escola, chegando até o conhecimento dos docentes por meio de falas dos jovens.

“Tô vendo a hora de acontecer uma barbárie na escola, com alunos matando os outros aqui, viu? Matar até professor. O negócio está bem feio, aluno vindo para a escola armado, ameaças de massacre na escola, alunas ameaçando outras.”, disse um professor.

De acordo com outra funcionária da escola, as ameaças de crimes nas instalações da unidade escolar foram feitas em março deste ano, quando postagens incentivando um ataque foram publicadas em uma rede social. “Foi um Instagram que começou a criar e publicar que haveria um massacre, e aí, nesse caso, a equipe gestora descobriu quem foi o aluno e transferiu ele de escola”, disse.

A gestão da escola confirma que realmente houve uma situação de transferência de um aluno da escola por conta de postagens virtuais, mas desmente que o ocorrido tenha relação a um “massacre”, e sim sobre brigas entre alunos do turno vespertino do colégio.

Também em março, um vídeo publicado nas redes sociais mostrou uma briga entre uma aluna do ensino fundamental e outra do ensino médio nos corredores da escola, terminando somente com a interrupção feita por um funcionário. O motivo da confusão, de acordo com a direção do CEDDAG, foi por conta de “fofocas” publicadas virtualmente, e as duas envolvidas foram transferidas para outros colégios de Planaltina.

Os professores da escola que entraram em contato com a equipe de reportagem do Jornal de Brasília comentam que, nos últimos meses, a rotina de trabalho tem sido marcada por um receio de acontecimentos futuros, e cobram um posicionamento mais claro e efetivo por parte da gestão do CEDDAG, que segundo os docentes, acabam omitindo as situações violentas nas escolas.

“Eu escuto esses relatos dos alunos, mas eu não escuto da equipe gestora, há meio que uma omissão. […] A gente não sabe o que está acontecendo, na hora, é um aluno que comenta que está acontecendo alguma coisa. A equipe gestora não passa para a gente, e a gente fica de mãos atadas”, comenta um funcionário.

Diretor desmente denúncias de massacres
Em uma entrevista exclusiva para o Jornal de Brasília, o diretor do CEDDAG, Robison Lopes, comentou que desconhece as denúncias dos professores sobre ameaças de massacres e portes de armas brancas na escola, e desmente que a gestão tenha proporcionado qualquer tipo de omissão para ofuscar os relatos.

“Se acontece, ou se aconteceu, porque pode ter acontecido, eu não estou sabendo. […] É uma possibilidade que pode ter acontecido alguma coisa que essa pessoa vivenciou, ou ouviu, e por algum motivo, ela omitiu da gestão da escola, que iria fazer qualquer encaminhamento e tomaria as providências”, afirma o diretor.

O gestor comenta que o índice de casos de agressão física é “zero”, e que os casos de violências na unidade são raros. Em contrapartida, Robison comentou que com a retomada das atividades presenciais proporcionaram uma mudança de comportamento, tanto em alunos quanto em funcionários da Educação.

“De alguma forma estamos sendo afetados emocionalmente e psicologicamente. O nosso aluno está vivendo um momento de construção, de formação integral. A gente vai observando, e começa a surgir inclusive na mídia, a gente começa a ver que não é uma questão de ser apenas o Dona América, somente os alunos do Dona América que estão agressivos”, observa o diretor da instituição.

Lopes afirma também que a escola está se empenhando na programação de atividades conjuntas com os moradores do bairro do Arapoanga, com foco no combate ao bullying, a prevenção de ações violentas e também a promoção de uma boa relação entre os estudantes e o patrimônio público.

“Não desejamos que seja um projeto com um tempo delimitado, e sim que esteja acontecendo até o fim do ano. Nós queremos utilizar alguns sábados letivos que vão ocorrer neste ano, para fazer uma ação com os pais, trazer os pais aqui na escola, fazer atendimentos. Abrir a escola para a comunidade para que ela se sinta pertencente a este lugar”, disserta o profissional de educação.

Diretor deseja mais policiamento nas imediações
De acordo com Robison Lopes, raramente há a presença da Polícia Militar do Distrito Federal (SEE/DF) para resolver algum problema que venha a acontecer dentro das instalações do CEDDAG. Mesmo assim, o diretor também ressalta que seria positivo a assistência do policiamento nos arredores do colégio.

“Dificilmente a gente tem o batalhão militar aqui, […] Eu até queria que tivesse, não dentro da escola mas na proximidade, no horário em que os alunos estão chegando, no horário em que os alunos estão saindo, porque vai dar mais sensação de segurança ao nosso estudante”.

Segundo o diretor, a existência dos policiais dentro das instalações da escola não é frequente, tendo em vista que os índices de ocorrências são baixos. “O que a gente tem de violência a gente comunica imediatamente à Polícia Militar, mas o fato de a gente não ter o batalhão aqui é de a gente ter os índices baixos de ocorrências”, contou.

O gestor também disse ao Jornal de Brasília que, de vez em quando, a escola solicita uma operação de varredura nas salas de aula, que consiste na presença de revistas nos pertences dos estudantes. O objetivo é garantir que nenhum tipo de droga, arma ou qualquer objetivo ilícito que prejudique a segurança e o ensino esteja dentro da instituição.

“Eles vêm à escola quando a gente chama, a gente abre um processo eletrônico solicitando uma operação varredura para coibir a questão do tráfico que é outro trabalho que a gente tem que evitar que aconteça dentro da unidade […] Os policiais vêm e passam em algumas salas, a última vez que aconteceu foi em um período que eu estava de licença paternidade, neste mês de março e abril”, disse Robison Lopes.

Secretaria de Educação destaca plano de combate à violência
Em uma nota concedida ao Jornal de Brasília, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE/DF) informou que não houve registros de ocorrências de irregularidades dentro do CEDDAG nos últimos dias. A pasta observou que ainda segue em prática o Plano de Urgência pela Paz nas Escolas, anunciado em 28 de março deste ano, e que está sendo implementado nas escolas identificadas com o maior índice de registros de violência.

De acordo com a Educação, os casos de violência nas unidades de ensino tendem a ficar cada vez mais raros, na medida em que o plano for avançando. O projeto do GDF visa implementar práticas de saúde integrativas, como o programa de Saúde Escolar, e também atividades integradas complementares, que envolvem atendimento com psicólogos e debates entre os alunos.

O plano contará também com uma revista nos pertences dos estudantes e/ou nas salas de aula, sempre que a direção da escola solicitar, como foi o caso do Centro Educacional Dona América Guimarães entre os meses de março e abril deste ano. Os órgãos de segurança também irão implementar um reforço no policiamento, através do Batalhão Escolar da PMDF, e também proporcionar rodas de conversa e atividades pedagógicas nas escolas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

J.Br

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