O Fogo da Pátria apagou-se

O monumento que abriga a Pira da Pátria vai passar por manutenção e, por isso, a chama está desligada. Embora esteja licitando um novo estoque, o GDF nega que o principal motivo seja a falta de gás.

Foto: Visite Brasília

Um dos símbolos da democracia brasileira, construída após a redemocratização do país em 1986, a pira que abriga o Fogo da Pátria está apagada. Localizada na Praça dos Três Poderes, a pira integra o conjunto arquitetônico do Panteão da Pátria e da Liberdade, que leva o nome do ex-presidente Tancredo Neves.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa, responsável pela gestão do monumento, afirma que a chama foi desligada porque a estrutura que abria o fogo está passando por manutenção. Em reportagem publicada ontem, a “Folha de S.Paulo” afirma que a chama foi desligada porque acabou o estoque de gás. A Secult nega que seja esse o motivo, mas confirma que o gás está realmente sendo licitado.

A nota da Secult encaminhada ontem a “Brasilianas” afirma que “o fogo não fica aceso de forma ininterrupta e que, pelo menos uma vez ao ano, a chama é apagada para manutenções, sendo esse o motivo pelo qual ela se encontra apagada no momento”.

Ainda segundo a Secult, um prazo (o da manutenção) não está vinculado ao outro (a licitação do gás). “A licitação deve ser concluída em 20 dias, mas a pira só será reascendida após as manutenções”, insistiu o GDF.

Mas, embora o GDF afirme que essa manutenção é anual e que faz periodicamente o desligamento da chama, esse não é o registro histórico que se tem do funcionamento do monumento. Até porque ele foi criado para que a chama ficasse acessa de forma contínua, porque seria um “símbolo da perenidade dos direitos conquistados” após a ditadura militar.

Para a compra do gás, a Secult espera investir R$ 90 mil por ano. O sistema de armazenamento do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) tem capacidade de armazenar cerca de 1 tonelada de gás. A Secult não informou quanto será gasto nem o que será feito no que está chamando de manutenção do monumento.

Desde a sua inauguração, há 38 anos, a Pira foi desligada (oficialmente) por duas vezes. A primeira, em decorrência de um possível vazamento de gás, em 2016, por ordem da Defesa Civil. Ela ficou dois anos desligada, enquanto foram feitos os reparos como a troca do tanque de gás, a modernização do acendedor da chama, além de reparos no mármore que recobre o edifício.

A segunda vez foi no ano passado, logo após a invasão da Praça dos Três Poderes pelos bolsonaristas, que depredaram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal, a Câmara dos Deputados e o Senado. A pira com o fogo fica bem próximo aos prédios dos três poderes.

A pira ficou desligada por um mês, a fim de que fossem feitas averiguações. Temeu-se que de alguma forma a depredação também tivesse atingido o monumento – mas nada foi identificado.

A pira de Brasília nasceu no Rio Grande do Sul
O monumento de Brasília foi desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e teve os custos de construção doados pela Fundação Bradesco. Além do Fogo da Pátria, o Panteão abriga um livro de aço com os heróis da Pátria (completamente desatualizado) e ainda espaço destinado à reverência da Inconfidência Mineira.

Embora tenha sido construído por um governo civil para esquecer os governos militares, o Panteão da Pátria – sobretudo a chama da Pátria – traz consigo uma proximidade com os valores militares. “O calor da chama transmite a mensagem da preservação do patriotismo, civismo e respeito”, afirma o Exército Brasileiro.

O Fogo Simbólico da Pátria surgiu em 1937, no Rio Grande do Sul, quando um grupo procurava um símbolo para representar o patriotismo do povo brasileiro. E, em tempos de Jogos Olímpicos, é curioso descobrir que o fogo brasileiro tem a ver com a chama que mantém acesa a Pira Olímpica – atualmente em Paris.

“A ideia de acolher o fogo como símbolo da Pátria chega ao Rio Grande do Sul após uma delegação desportiva do Estado estar presente nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. A edição do evento desportivo, que ocorreu durante o período da Alemanha nazista, foi a primeira a empregar a corrida com a tocha”, afirma longa reportagem publicada ano passado pelo jornal gaúcho “Diário de Santa Maria”.

“De volta ao Rio Grande do Sul, o jornalista Túlio de Rose, impressionado pela emoção que a Corrida de Revezamento da Chama Olímpica causou ao público do estádio, visualiza uma necessidade de repetir o feito no Brasil, como símbolo de reafirmação da unidade nacional. Para isso se concretizar, Túlio contou com o apoio do núcleo regional da Liga da Defesa Nacional (LDN)”, completa o texto.

A história se completaria no dia 31 de agosto de 1938, com a 1ª Corrida do Fogo Simbólico da Pátria. Ela saiu de Viamão às 21h, chegando às 0h do dia 1° de setembro, na Pira da Pátria, localizada no Parque Farroupilha, em Porto Alegre.

“Esse percurso de 26km foi realizado por diferentes atletas, chamados de mensageiros do Fogo Simbólico, que revezaram a condução da chama”, conclui a reportagem.

Correio da Manhã

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