Devastador e acessível, alto consumo de crack deixa DF em alerta

Terceira droga mais apreendida pelas forças policiais em 2022, entorpecente é um dos mais vendidos e viciantes, por ser acessível, o que impacta também na sensação de insegurança

Foto: g1

O consumo do crack vem crescendo no Distrito Federal. No ano passado, as forças de segurança pública apreenderam a maior quantidade da droga desde 2018, de acordo com dados da Polícia Civil (PCDF). Foram mais de 144kg retirados de circulação em 2022 — quantidade que é praticamente o dobro do registrado há seis anos atrás, quando 76,5kg de crack foram apreendidos.

Soluções
Na avaliação do especialista, para coibir o tráfico dessa droga tão devastadora, o ideal é que haja uma operação conjunta entre as forças de segurança pública e a Secretaria de Desenvolvimento Social. “Isso porque uma das formas de diminuir o tráfico de drogas é retirar o usuário da rua, dando um tratamento adequado”, afirma. “Além disso, a atividade de inteligência da PCDF precisa identificar os principais pontos onde os traficantes costumam vender a droga e prendê-los. Só que isso não é uma tarefa fácil”, pondera Júlio Hott.

Professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Raphael Boechat explica que o crack é uma droga que possui um princípio ativo muito parecido com a cocaína, só que mais potente e perigosa. “Por ser fumada, a área de absorção do pulmão é muito grande e, desta forma, cai imediatamente na corrente sanguínea, causando os efeitos muito rápidos. Só que eles passam mais rápido também, por isso tem que ser fumado mais vezes”, afirma.

O especialista frisa que uma pessoa intoxicada pelo crack pode ter efeitos graves de parada cardiorrespiratória, além de criar tolerância à substância, fazendo com que o usuário precise cada vez mais da droga para ter o mesmo efeito que tinha antes. “Por isso, o tratamento não é fácil. Por ser barata e seus efeitos serem passageiros, dificilmente o usuário faz apenas uma inalação. Isso só aumenta a dependência”, argumenta. “Pessoas que não têm dinheiro, às vezes, nem para comer, conseguem comprar o crack que, de certa forma, inibe o apetite e tira a fome. Essa questão acaba incentivando o uso”, acrescenta o psiquiatra.

Atendimento
Segundo o psiquiatra Raphael Boechat, existem algumas medicações que ajudam a passar pela fase de abstinência sem tanto sofrimento. “Sem elas, fica muito mais difícil o tratamento, somente a força de vontade do usuário pode ajudar”, alerta. “O tipo de tratamento — ambulatório ou internação — depende do prejuízo e da dependência causada pela droga. Ambos são importantes, pois podem existir muitas recaídas durante o processo, principalmente se ele voltar ao meio que estava quando era usuário”, ressalta o especialista.

Em nota, a Secretaria de Saúde (SES-DF) informou que o atendimento aos dependentes químicos é realizado por meio das sete unidades do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) — leia Para saber mais. De acordo com a pasta, a demanda é espontânea — comparecimento do usuário direto nos centros — ou via encaminhamento por outros dispositivos da rede de saúde ou da rede intersetorial (Assistência Social, Educação, Justiça, etc.). Somente no ano passado, foram mais 116 mil atendimentos, segundo a secretaria. Para ser atendido, é necessário: um documento oficial de identificação com foto; Cartão Nacional do SUS (Cartão SUS); Comprovante de residência (recomendação, não obrigatório). A SES-DF ressaltou que, para pessoas em situação de rua, esses documentos não são exigidos.

Além do atendimento na rede pública, existem projetos voltados para a recuperação de dependentes químicos no DF. Um deles é a Fazenda Esperança, que está presente em 26 países, com 164 unidades. Na capital do país, há uma casa feminina, localizada em Brazlândia, onde mulheres com idade entre 18 e 59 anos passam pela reabilitação.

O processo de recuperação adotado pela entidade tem 12 meses de duração e contempla três aspectos: o trabalho como processo pedagógico; a convivência em família; e a espiritualidade para encontrar o sentido da vida. No início de julho, a vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), assinou licença ambiental para obras que vão ampliar a atuação da Fazenda da Esperança. O novo espaço será voltado para o acolhimento de homens e terá capacidade para até 130 internos, que terão acesso a tratamento gratuito.

Após a assinatura, Celina comentou sobre a atuação do projeto. “Sabemos o quão importante é fazer o tratamento dos dependentes químicos e tenho certeza que Brasília será vitrine para esse trabalho de excelência feito pela Fazenda da Esperança”, destacou. “As comunidades terapêuticas são um braço forte para atender as pessoas que mais precisam quando o Estado não consegue acessar todas elas”, ressaltou.

Funcionamento
CAPS AD II — Atende pessoas maiores de 16 anos que apresentam sofrimento mental grave e persistente decorrente do uso nocivo e da dependência de álcool e outras drogas. Funciona de segunda a sexta-feira, em horário comercial;

CAPS AD III — Atende pessoas maiores de 16 anos que apresentam sofrimento mental grave e persistente decorrente do uso nocivo e da dependência de álcool e outras drogas. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana, e acolhimento noturno.

Atendimento de pacientes nos CAPS AD
2020 — 74.377

2021 — 87.571

2022 — 116.432

2023 — 45.985 (janeiro a abril de 2023)

Correio Braziliense com informações da SES/DF

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