Quem caminha pelas ruas do Distrito Federal tem a alegria de admirar a florada dos ipês-roxos que se iniciou no fim de maio. Os ipês fazem parte da identidade da cidade, e esta é a primeira vez que as árvores florescem em 2022. A floração, que se estende até outubro, faz até os brasilienses mais apressados pararem para tirar uma foto. É o caso de Juliana Ramos, 29 anos, moradora do Sudoeste. Enquanto ia com o filho ao mercado, na manhã desta segunda-feira (6/6), a engenheira ambiental avistou um ipê-roxo cheio de flores, na quadra 6 do Sudoeste. Além de trazer admiração, a árvore resgata memórias afetivas de quando Juliana estava grávida do pequeno Mateo.
“Nasci em Brasília e moro aqui desde sempre, sou fã dos ipês, e esse é o primeiro que vejo no ano. E meu filho nasceu em setembro, no mês em que mais florescem, então sempre que eu vejo um ipê, lembro dele e dessa época da minha vida”, conta Juliana. Ela não é a única que parou para fotografar o ipê-roxo. Assim que a engenheira deixou o local, pelo menos outros quatro brasilienses fizeram o registro. Alguns motoristas até estacionaram na esquina e desceram do carro para conseguir o melhor ângulo da árvore. Outros ignoraram as regras de trânsito e tiraram a foto enquanto passavam pela rotatória.
Natural do Ceará, o estudante Francisco Rocha, 27, mora em Brasília há cerca de três anos e coleciona fotografias de ipês. “Não tinha visto este ano um ipê tão bonito e cheio como esse, por isso parei minha caminhada para admirar. Quando cheguei ao DF, o que mais me chamou atenção foram os ipês, porque na minha cidade não tinha tudo isso. Eu acho lindo demais, mesmo quando estão sem as flores”, relata o jovem. A aposentada Solange Sartori, 64 anos, veio do Rio de Janeiro para Brasília em 2014, e também se apaixonou pelas árvores. O roxo é o favorito dela. “Aqui, em Brasília, a natureza é pulsante, os canteiros de flores me chamam muita atenção, e fico impressionada com a beleza dos ipês. Estava indo ao mercado, mas tive que parar para fotografar esse. Vou mandar para minha filha, que mora aqui perto e vai adorar”, diz.
O ipê-roxo é o primeiro que floresce no DF. A espécie costuma ter a floração entre maio e agosto e, dependendo das condições climáticas, pode surgir em meses anteriores com a folhagem despida. Neste ano, as árvores começaram a exibir suas cores no fim do mês passado, de acordo com Raimundo Silva, diretor do Departamento de Parques e Jardins da Novacap. “É uma temporada muito bonita para Brasília. Ela está começando agora e se estende até meados de janeiro. E o ipê-roxo tem uma característica diferente dos demais: ele pode florir duas vezes no ano na mesma árvore. O roxo também é um dos que mais mantém a florada, dura uns 30 dias com tranquilidade”, comenta Raimundo.
Existem cerca de 230 mil ipês no DF. Neste ano, a Novacap pretende plantar mais 40 mil mudas de cores variadas. No ano passado, foram plantadas aproximadamente 30 mil. Segundo o diretor de Parques e Jardins da companhia, o DF tem condições naturais favoráveis ao plantio e crescimento de ipês. “A altitude é favorável, e o clima de Brasília faz o ipê florescer com muita intensidade. Por termos um período de frio e de seca muito grandes, é um fator propício para essas floradas exuberantes”, diz Raimundo. “Plantamos apenas no período de chuva, a partir de outubro, para que a planta consiga se enraizar e se manter durante o período seco, até chegar o próximo período chuvoso”, explica.
Depois do roxo, vem os ipês-amarelos, cuja floração acontece entre julho e outubro, sendo uma das cores mais contempladas pelos moradores do DF. Já o ipê-branco começa a enfeitar as ruas entre agosto e dezembro e pode ter entre duas ou três florações seguidas na mesma estação. Pouco perceptível pela população, o ipê-verde também começa sua floração entre agosto e setembro. A última espécie a florir é o ipê rosa, de agosto a outubro. Algumas unidades, porém, podem florescer antecipadamente, a depender das condições climáticas da região.
Segundo Eduardo Bessa, professor do curso de ciências naturais da Universidade de Brasília (UnB), a duração das chuvas, a intensidade da seca e as baixas temperaturas são fatores que podem adiantar a floração. “O fator mais tradicional a desencadear a floração é a duração dos dias, que as plantas percebem por meio de relógios biológicos internos sensíveis à luz”, explica o especialista. “Muitas plantas ainda têm um gatilho de estresse ambiental para florescer. Em países mais frios, pode ser a aproximação da neve, e aqui temos a chegada da seca, que influencia a florada de diversas plantas, entre elas o ipê”, acrescenta.
Tempo seco não dá trégua
Os ipês não são os únicos afetados pelo tempo seco e frio no Distrito Federal. Apesar de a capital não estar mais em estado de alerta, a população deve tomar cuidado com a baixa umidade do ar nos próximos dias, pois o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) prevê a predominância de uma massa de ar seco até, pelo menos, domingo. “O céu vai continuar claro, com poucas nuvens, mas estamos com um domínio de massa de ar fria e seca, e a umidade relativa do ar pode ficar abaixo dos 35%”, explica o meteorologista do Inmet, Cleber Souza.
Ontem, a umidade do ar no DF variou entre 35% e 85%. Já as temperaturas ficaram entre 11°C e 25°C, sendo que a menor foi registrada de manhã, na região do Paranoá. O dia foi marcado por muito sol e secura. De acordo com o Inmet, o cenário não deve mudar muito ao longo da semana, e a máxima prevista, até domingo, é de 27°C. A mínima para o resto da semana é de 12°C. Os ventos também devem se intensificar ao longo dos dias.
Diante da seca de Brasília, a orientação da Defesa Civil é beber, pelo menos, seis copos d’água por dia, pingar duas gotas de soro fisiológico em cada narina, ter toalhas molhadas e bacias de água nos quartos, usar roupas leves e, se possível, de algodão. Também faz parte das recomendações não fazer exercícios físicos entre 10h e 17h e evitar queima de lixo e entulho.
CB