Guerra de Rússia e Ucrânia impacta agronegócio no Brasil; entenda como

Em entrevista ao Metrópoles, Eduardo Daher, da Associação Brasileira do Agronegócio, diz que o maior problema está relacionado à importação

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Foto: Vinícius Schimdt

O Brasil é um grande importador de fertilizantes, principalmente aqueles derivados de potássio e nitrogênio, utilizados no cultivo de açúcares e amido como cana de açúcar, milho, café e cítricos. Dessa forma, o país já sente impactos diretos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Em entrevista ao Metrópoles, o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Daher, explicou que as sanções aplicadas à Rússia não representam o fim das importações de artigos vindos da nação, dos quais o Brasil é dependente, por ter uma pequena produção própria. No entanto, isso encarece e dificulta as negociações, gerando aumentos de preço ao consumidor final.

“Essa guerra vai gerar uma percepção de inflação e uma realidade de aumento quase que imediatas. A Rússia é uma grande produtora de milho e, em razão da seca brasileira, teremos uma escassez do grão. Isso impacta no preço no frango, do porco, além de tantos outros produtos. A situação se repete com a Ucrânia, que é grande produtora de trigo, milho, girassol e óleo de girassol”, afirma Daher.

Economia
Eduardo Daher afirma que o conflito impacta em duas frentes principais o Brasil: economia e logística. Segundo ele, os prejuízos econômicos, em decorrência da falta de fertilizantes, são mais visíveis e dramáticos, já que existem problemas com outros países, como Belarus, também um grande exportador de insumos agrícolas, e houve bloqueios em rotas, além de outras sanções.
“Os problemas na importação de fertilizantes são anteriores ao conflito. Belarus já sofria sanções desde quando receptou um voo e aprisionou um jornalista. Isso gerou dificuldades para a importação do cloreto de potássio, que era cerca de 15% do fornecimento. Com isso, as importações estavam sendo feitas por meio da Lituânia, mas, há cerca de 48 horas, isso também foi proibido. Esses insumos são básicos para o agronegócio”, disse.

“No caso do potássio, por exemplo, o Brasil produz cerca de 5%, os outros 95% são importados. Desse quantitativos, 30% são importados da Rússia e de Belarus. Podemos importar de outros países, como Canadá e Israel, mas essa logística é muito mais complicada, gera mais gastos, mais tempo. Outros insumos importantes são o nitrogênio e o gás natural, para os quais a Rússia é uma grande parceira e os preços são muito competitivos”, afirma Daher.

“A Ucrânia é uma grande produtora de trigo, milho, girassol e óleo de girassol. Parte disso é importado pelo Brasil, mas vai parar de acontecer. Evidentemente os preços sobem. No entanto, a maior consumidora de toda essa produção é a própria Rússia”, ressalta.

Logística
O diretor da Abag chama a atenção também para as questões logísticas geradas pelos bloqueios à Rússia. “Nossos navios vão para o hemisfério, normalmente com carne, café e suco de laranja, e voltam com cargas de fertilizantes e cereais. Porém, isso não está acontecendo, em razão do boicote à Rússia. Um problema sério que temos é em relação aos contêineres, que já vinha desde a pandemia de Covid-19 e será agravado, com a falta de trânsito dos navios. Nós não conseguimos mandar nada de avião”, explica.

“Tiraram a Rússia do Swift, sistema que concentra mais de 70% das transações bancárias globais, e com isso congelaram a possibilidade de mandar e pegar dinheiro do país. Esse foi um problema financeiro instalado pelo mundo ocidental e os EUA. Os bancos centrais estão retendo toda a reserva russa colocada no Tesouro americano. Isso gera um desconforto brutal, porque estamos falando de produtos como minério de ferro, petróleo. Estamos vivenciando um problema grave gerado por esse conflito”, completa Daher.

“Os portos na Rússia congelam no inverno e, sem as transações bancárias, como vão acontecer as negociações? Na Europa, eles conseguem fazer só uma safra por ano, em razão das condições climáticas, assim como o Canadá. Aqui no Brasil, nós fazemos duas safras por ano. O Brasil é muito competitivo no mercado de commodities por causa disso, mas, com essa situação de conflito, como poderemos realizar esses comércios?”, questiona o diretor.

Ureia
Outro ponto destacado por Eduardo Daher que merece atenção é em relação à ureia. “A ureia é um derivado do petróleo, mais especificamente do gás natural, que na Rússia é muito mais barata que no resto do mundo. O país fornece para toda a Europa. A Rússia tem as maiores reservas de petróleo, gás natural, minérios de toda espécie, nitrogênio, fósforo e potássio.”

“A ureia russa é tão competitiva que a Petrobras Fertilizantes fechou as produções de nitrogenados, porque a ureia russa chegava mais barata na porta da estatal e a empresa não conseguia competir. Assim como na situação dos fertilizantes, isso não significa o fim das transações, já que não é só a Rússia que possui, no entanto, isso implica em diversas complicações econômicas e logísticas”, finaliza ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

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