O segundo turno em Goiânia, onde candidados apoiados pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) travam uma guerra direta pela prefeitura, gerou um movimento de articulação especial pela garantia do voto evangélico.
Em um campo, tradicionalmente, dominado pelo bolsonarismo, alguns dos principais líderes do segmento, na capital goiana, optaram por escantear o candidato do PL, Fred Rodrigues, e declararam apoio a Mabel (União Brasil), do mesmo partido do governador.
A decisão chama atenção, pois, entre os líderes, está, até mesmo, o representante de uma igreja já visitada por Bolsonaro no passado. Trata-se do bispo Oídes José do Carmo, que é presidente da Assembleia de Deus do Setor Campinas, onde o ex-presidente esteve em 2021. Ele preside, também, a Convenção Regional dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus Ministério Madureira em Goiás (Conemad-GO).
Nessa segunda-feira (21/10), Oídes e outros líderes da igreja promoveram um evento em apoio à candidatura de Mabel, em Goiânia. O bispo destacou, na ocasião, que a decisão partiu da necessidade de ter um gestor à frente da prefeitura. “Não podemos nos aventurar. Mabel possui experiência para gerir essa cidade”, disse o líder religioso.
Além de Oídes, que é irmão do ex-senador Luiz Carlos do Carmo, participaram, ainda, do evento os pastores Abinair Vargas, da Assembleia de Deus Fama, Josué Gouveia, da Assembleia de Deus Vila Nova, e Gentil Rosa Oliveira, da Assembleia de Deus Bethel.
Bolsonaro esteve em Goiânia duas vezes na campanha
A disputa em Goiânia extrapolou os candidatos em si e arrastou para o ringue os seus respectivos apoiadores políticos. Bolsonaro já esteve na cidade duas vezes, durante a campanha deste ano, e participou de eventos e comícios de Fred Rodrigues. Em todas elas, durante discurso, ele fez questão de provocar Caiado.
Na primeira, Bolsonaro chamou o governador de Goiás de “covarde”, em alusão à pandemia da Covid-19. “Nós na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde!”, afirmou.
Na segunda vez, já depois do resultado do primeiro turno, que teve o candidato dele como o mais votado – Fred Rodrigues teve 31,14% dos votos e Mabel 27,66% – Bolsonaro voltou a atacar Caiado, chamando-o de “rosnador”: “O União Brasil, aqui do chefe, do rosnador, tem ministério do PT. Quem está com o PT, não tem moral para falar nada”.
As duas idas do ex-presidente a Goiânia, no entanto, não foram suficientes para articular o apoio dos principais líderes evangélicos em torno da candidatura de Fred. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o filho dele, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também estiveram na capital.
Articulação pesada de Caiado
Sabendo que o voto evangélico pode decidir quem será o campeão da eleição deste ano, Caiado deu início a uma articulação pesada, após o primeiro turno, para somar lideranças e atrair os principais pastores da cidade para o seu lado.
Tudo ficou ainda mais favorável após a declaração de apoio a Mabel feita pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD), que concorreu à prefeitura de Goiânia, mas ficou em quinto lugar, com 6,57%. Ele é integrante da Assembleia de Deus e tem relação próxima com Oídes José do Carmo e outros pastores.
O Metrópoles apurou que pesquisas qualitativas do União Brasil identificaram que o candidato de Bolsonaro teria herdado votos que seriam, inicialmente, de Vanderlan no primeiro turno, inclusive entre evangélicos. No início da campanha, o senador aparecia com chances de ir ao segundo turno, mas perdeu espaço, com o passar do tempo, chegando a ter 15% a menos, em relação ao que as pesquisas sugeriam.
Já Fred, que viu a campanha crescer no primeiro turno, especialmente após a ida de Bolsonaro a Goiânia, passou de quarto-quinto lugar nas pesquisas para a primeira posição, após a contabilização do resultado, surpreendendo a todos.
Para evitar novas surpresas e a derrota de Mabel, Caiado entrou em campo para garantir o apoio e participação dos pastores da Assembleia de Deus, uma das maiores denominações evangélicas de Goiás. Em um único domingo, após o primeiro turno, a campanha do União Brasil chegou a visitar seis igrejas na região da Vila Nova, em Goiânia.
Apoio de outras igrejas
Além da Assembleia, Mabel construiu, ainda, boas relações com pastores da igreja Ministério Luz Para os Povos, cujo apoio foi formalizado pela presidente, pastora Noeme Torres, ainda no primeiro turno, no dia 4 de outubro. Já em outras denominações, como Fonte da Vida e Videira, a situação segue em aberto.
O genro do pastor Aluísio Silva, presidente da Videira, foi candidato a vereador em Goiânia na coligação de Mabel, mas não se elegeu. Silvio Luiz (MDB) ficou como suplente, após receber 5.146 votos. A derrota teria desapontado o líder religioso, que ainda não declarou apoio oficial no segundo turno.
Para contrapor a movimentação política nas igrejas de Caiado e Mabel, Fred Rodrigues aposta no apoio do cantor gospel Cael Singer e na aproximação da esposa, Adelle Zacharias, com representantes da igreja católica, a exemplo do padre Luiz Augusto Ferreira da Silva, que declarou apoio ao candidato nessa terça-feira (22/10).
Metrópoles