Da Cunha é suspeito de publicar vídeo em que inventou a prisão de um suspeito de ser líder do PCC

Acusado de agredir ex, Da Cunha pode ser expulso da Polícia Civil por postar vídeo nas redes sociais com falsa prisão de chefe de facção

Reprodução Facebook

Delegado Da Cunha, como deputado é conhecido, é suspeito de publicar vídeo em que inventou a prisão de um suspeito de ser líder do PCC para ganhar seguidores. Neste domingo (17), Fantástico revelou vídeo em que ele ameaça matar ex-companheira.

Acusado de agredir a ex-companheira, o deputado federal e delegado Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), de 46 anos, responde a pelo menos cinco processos administrativos na Polícia Civil que podem resultar na expulsão dele da instituição.

Num desses procedimentos, Delegado Da Cunha, como é conhecido, é acusado de postar vídeo nas suas redes sociais sobre uma operação em que inventou a prisão de um chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para ganhar seguidores (saiba mais abaixo).

A Corregedoria da Polícia Civil investiga todas as denúncias contra Da Cunha como delegado. Até a última atualização desta reportagem, nenhum dos procedimentos havia sido concluído pelo órgão, segundo informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) na última sexta-feira (15).

Da Cunha está licenciado de seu cargo como delegado desde 2021 para exercer a função de parlamentar na Câmara dos Deputados em Brasília.

Neste domingo (17), o Fantástico revelou um vídeo que o mostra ameaçando atirar e matar Betina Grusiecki, sua ex-companheira, de 28 anos. A gravação foi feita no ano passado e fará parte do inquérito por agressão que ela move contra Da Cunha na Justiça.

– Da Cunha: “Pode parar. Pode parar, senão vou te matar aqui.”

– Betina: “Vai me matar?”

– Da Cunha: “Matar.”

Betina também acusa o ex-companheiro de bater a cabeça dela contra a parede e tentar esganá-la com as mãos na mesma ocasião. Segundo o Ministério Público (MP), essa acusação de violência doméstica ainda vai a julgamento. Ele nega o crime, de acordo com sua defesa.

Até a última atualização desta reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não havia informado quais foram as conclusões da Corregedoria da Polícia Civil sobre as denúncias contra Da Cunha como delegado.

Expulsão da polícia
Se o órgão optar pela demissão dele, essa sugestão seguirá para análise do Conselho da Polícia Civil, depois, para a própria SSP, e, por último, para sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Caberá a ele eventualmente assinar a demissão de um agente público, que terá de ser publicada no Diário Oficial.

O g1 apurou que ao menos dois dos cinco processos contra Da Cunha foram concluídos, com o indiciamento dele por crimes contra a honra, abuso de autoridade e peculato, por usar a estrutura da polícia em proveito próprio. A Polícia Civil já havia informado em 2021 que o objetivo dele era ganhar visibilidade e ganhos financeiros indevidos.

Afastamento
O g1 não conseguiu localizar o delegado ou sua defesa para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem. Da Cunha foi afastado das ruas em julho de 2021, após declarar publicamente que “há ratos na polícia”. Logo depois, ele pediu licença não remunerada por dois anos da Polícia Civil.

Ele é conhecido como Delegado Da Cunha na polícia e nas suas páginas no Youtube, no Instagram e no Twitter. É nelas que posta vídeos de ações policiais para seus seguidores. Só no Youtube, são mais de 3,7 milhões de fãs.

Numa dessas operações filmadas pelo delegado e sua equipe, em abril de 2020, ele inventou que prendeu Jagunço do Savoy, que seria um dos chefes do PCC na capital. Mas, na verdade, o homem preso era uma outra pessoa, que tinha um apelido parecido.

Por causa da denúncia de que mentiu e outras falhas que teria cometido ao publicar ações policiais sem autorização de seus superiores, foi aberto um processo administrativo contra Da Cunha na Corregedoria da Polícia Civil. O relatório seguiu para a cúpula da instituição que, de maneira sigilosa, decidiu pela demissão do delegado.

O que diz Da Cunha

Em entrevista ao g1 em 2021, Da Cunha admitiu, entre outras coisas, que encenou e mandou filmar a prisão de um sequestrador no tribunal do crime em julho de 2020. O vídeo também foi publicado em suas redes sociais. Após o flagrante real, o delegado colocou a vítima de volta no cativeiro e encenou a ação policial que havia acabado de acontecer, mas, desta vez, filmando as cenas.

“Olhei aquele circo armado e pensei: ‘Meu, isso aqui é um negócio muito forte. Eu preciso registrar'”, contou Da Cunha.
Além da investigação administrativa, há uma investigação criminal contra o delegado, que é feita pelo Ministério Público (MP) por causa da mesma denúncia: simular o flagrante do estouro de um cativeiro de sequestro na capital paulista.

g1

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