Dezembro é o mês em que o país se mobiliza para a luta contra o vírus HIV e a Aids. Segundo a Lei nº 13.504, de 2017, o objetivo do movimento é chamar atenção para a prevenção e tratamento.
Segundo o Boletim Epidemiológico do Distrito Federal, entre 2018 e 2022 foram notificados 3.684 casos de infecção pelo HIV e 1.333 casos de adoecimento por Aids. O coeficiente de mortalidade por Aids no Distrito Federal diminuiu 21,6% em cinco anos – caiu de 3,3 para 2,7 no período. O boletim mostra também redução nos casos de infecção pelo HIV e de Aids: uma queda de 9,8 para 7,3 por 100 mil habitantes.
“Os dados indicam que casos de HIV estão sendo detectados antes de evoluir para a Aids. Isso é fundamental. Se toda pessoa com HIV estiver realizando o tratamento adequado, ou seja, com a carga viral indetectável, além dos cuidados com a sua própria saúde, também estará contribuindo para a saúde coletiva, pois não há chance de transmissão”, analisa a gerente de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde (SES-DF), Beatriz Maciel Luz.
O diagnóstico para o HIV é feito a partir do teste rápido,que está disponível em todas as 175 unidades básicas de saúde (UBSs) do DF e no Núcleo de Testagem e Aconselhamento (NTA), antigamente chamado de Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), localizado na W3 Sul, nas entrequadras 508/509.
“O teste rápido está disponível para toda a população e deve ser feito com regularidade. É muito importante que o paciente saiba se tem HIV, para buscar tratamento no tempo certo, possibilitando a continuidade da vida com saúde e sem desenvolver Aids”, explica a gerente.
O exame é feito a partir da coleta de sangue venoso ou digital – pela ponta do dedo. O diagnóstico só é confirmado após o resultado reagente em dois testes rápidos – um de triagem, outro confirmatório. Após a infecção, o vírus pode levar até 30 dias para aparecer no exame, devido à janela imunológica.
A infecção pelo HIV não apresenta sintomas. No início, quando o organismo começa a produzir os anticorpos para enfrentar o HIV, o paciente pode apresentar febre, mal-estar ou inchaço nos gânglios (ínguas). Por serem sintomas muito comuns a outras doenças, como a gripe, a infecção passa despercebida. Após essa fase, é iniciado o período marcado pela interação do vírus com as células de defesa – os linfócitos. Este processo pode durar anos, dependendo das condições de saúde de cada pessoa, e é chamada de fase assintomática.
Tratamento e prevenção
Ainda sem cura para o HIV, o tratamento inclui acompanhamento periódico com profissionais de saúde, realização de exames e uso de medicamentos antirretrovirais, que são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Os medicamentos mantêm o HIV sob controle. A medicação diminui a multiplicação do vírus no corpo, recupera as defesas do organismo e, consequentemente, aumenta a qualidade de vida. O uso também faz com que as pessoas alcancem a chamada ‘carga viral indetectável’. Isto é, ter uma quantidade de vírus no organismo tão baixa que nem os exames são capazes de detectar”, revela Beatriz.
Há uma série de métodos de prevenção que são disponibilizados na rede pública. São eles: os preservativos internos e externos; a profilaxia pré-exposição (PrEP), que consiste no uso diário de medicamentos antirretrovirais para pessoas soronegativas antes de uma exposição de risco ao HIV; a profilaxia pós-exposição (PEP), medida de urgência que deve ser iniciada em até 72 horas após situação de risco à infecção; e terapia antirretroviral (TARV), para pessoas infectadas.
Importância do autocuidado
Há mais de 30 anos, o jardineiro Claudinei Alves faz o tratamento contra o vírus HIV na rede pública de saúde do DF. Na época em que ele contraiu o vírus devido ao uso compartilhado de seringas, a prevenção e o tratamento não eram tão difundidos como hoje.
Ele descobriu que estava infectado em 1990, quando o companheiro foi diagnosticado. Três meses depois, ele também recebeu o diagnóstico de soropositivo. “De lá para cá tive inúmeras demandas. Me tornei ativista, tanto sensibilizando as pessoas sobre a doença quanto fazendo o autocuidado. Hoje me sinto muito bem. Tem 32 anos que estou vivendo com HIV e quem me vê não acredita. Mas foi muita adesão aos medicamentos e complicações para a aceitação. Estou há 14 anos indetectável [quando a pessoa não transmite mais o vírus]”, conta.
O tratamento de Claudinei se iniciou no Plano Piloto. Hoje ele é acompanhado em uma UBS em Planaltina. “Meu tratamento é acompanhado na rede pública. Tenho uma excelente infectologista e consigo todo o tratamento com antirretrovirais disponibilizados pela Secretaria de Saúde. Já cheguei a tomar 32 comprimidos diários”, lembra.
Militante do movimento Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV, Alves faz um alerta: “Todo cidadão tem por obrigação fazer o teste. É a melhor forma de prevenir a doença, que é a Aids, e garantir uma vida saudável vivendo com o HIV. Porque hoje o protocolo é assim: foi diagnosticado, já tem medicamento para o paciente tomar”.
Jornal de Brasília