Na manhã desta terça-feira (5/12), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desencadeou a Operação My Key Style, responsável por apurar a atuação de uma organização criminosa interestadual (Orcrim) que realizava o tráfico de medicamentos de uso veterinário, conhecido como Ketamina, em grande escala.
A investigação ocorreu por meio da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), em ação conjunta com a 4ª Promotoria de Entorpecentes do DF, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e apoio do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Os policiais cumprem 23 mandados de busca e apreensão em residências e comércios ligados à Orcrim, sendo 14 em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro e quatro em Brasília, além de seis mandados de prisão, quatro em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Houve, ainda, outros cinco mandados de busca e apreensão de veículos (quatro em São Paulo e um no DF) e bloqueios de diversas contas bancárias.
Evidências e elementos de informação suficientes para o esclarecimento da estrutura da Orcrim foram produzidos durante a investigação, além da identificação dos seus principais integrantes e discriminação de suas funções na organização.
O trabalho de inteligência, somado às atividades de campo e informações compartilhadas por unidade de inteligência financeira pelo setor de Segurança da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), permitiram traçar uma linha do tempo que se inicia no final do ano de 2021, com a fundação de uma pessoa jurídica, constituída com o único propósito de comercializar ilegalmente medicamentos veterinários controlados via postal, como o anestésico cetamim.
Este medicamento controlado tem na sua composição a cetamina, substância que, quando desidratada, é vendida como droga e ganha a denominação de Ketamina, ou “Key”. Trata-se de uma droga de uso recreativo e cuja difusão vem apresentando significativo incremento nos últimos anos, em decorrência da popularização do seu consumo em festivais de música eletrônica.
Investigação
Segundo os regulamentos agropecuários, há uma série de exigências para os estabelecimentos que armazenam, comercializam e/ou distribuem produtos de uso veterinário, especialmente no que tange às substâncias sujeitas a controle especial.
“Até a identificação dessa organização criminosa, o tráfico de ketamina envolvia veterinários ou estabelecimentos que revendiam parte dos medicamentos adquiridos por eles, ou seja, ocorria o desvio de um percentual da substância adquirida que entrava no mercado ilegal. Essas vendas clandestinas eram omitidas ou dissimuladas nos relatórios enviados para o Ministério da Agricultura”, destaca o coordenador da Cord/PCDF, delegado Rogério Henrique de Oliveira.
Os estabelecimentos e os veterinários têm uma atuação legal e outra clandestina, conforme as investigações comprovaram, dinâmica que limita o volume de vendas ilegais, pois se forem feitas em grande quantidade as chances das fraudes serem identificadas aumentam. “Porém, esse grupo criminoso inovou ao montar um esquema em que toda a atuação empresarial seria voltada para o mercado clandestino”, acrescenta o delegado da PCDF.
A empresa identificada pela PCDF é uma agropecuária localizada no Estado de São Paulo, criada com uso de documentação falsa, exclusivamente para a aquisição de cetamina, distribuída aos Estados do Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal.
Por meio das diligências foi comprovado que para ocultar e dissimular a origem ilícita da grande movimentação financeira, os envolvidos montaram uma rede de pessoas jurídicas e naturais, também com o uso de documentos falsos. E para cumprir todos os requisitos administrativos visando receber autorização de comercializar os medicamentos controlados, o grupo cooptou uma médica veterinária, apontada no contrato social da empresa como responsável técnica, para ser cadastrada no sistema de controle de aquisições de medicamentos controlados do Ministério da Agricultura.
Estrutura criminosa
Montada o esquema criminoso, a Orcrim passou a adquirir grandes quantidades de medicamentos veterinários controlados junto à indústria e a grandes distribuidores. O plano prosperou rapidamente e a empresa agropecuária, ora investigada, tornou-se o maior cliente de uma das empresas fabricantes da cetamina e de outros medicamentos veterinários restritos.
“Apenas no último ano, a empresa adquiriu pelo menos R$ 7 milhões em cetamina e outros medicamentos. Cada ampola de cetamina era comprada por R$ 90 a R$100 e revendida a traficantes locais por R$ 400″, explica o delegado da Cord.
Ainda de acordo com o delegado, todos esses medicamentos eram vendidos no mercado ilegal e parte deles acabou sendo apreendido em ações realizadas pela Cord e a 10º DP do Lago Sul em várias regiões do DF. “Sendo possível desarticular o maior esquema de tráfico de cetamina do País”, ressaltou o chefe da Cord.
Um dos investigados no DF recebeu ao menos 30 encomendas contendo cetamina, já tendo sido, também, preso pela Cord/PCDF no dia 28 de fevereiro. Outro investigado no Distrito Federal foi preso pela 10ª DP, no dia 29 de maio, quando recebia grande quantidade de cetamina, via postal.
A PCDF ainda flagrou uma entrega, realizada pela indústria, em 24 de outubro, à empresa envolvida na investigação. Na ocasião, 252 frascos de cetamina foram apreendidos, os quais foram adquiridos diretamente da indústria pelo valor aproximado de R$ 25 mil.
Correio Braziliense