Em um documento de 67 páginas ao qual o Metrópoles teve acesso, constam detalhes das investigações que levaram à prisão do ex-delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Robson Cândido (foto em destaque).
O arquivo reúne os elementos que embasaram a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) contra o delegado aposentado e, atualmente, preso. Nessa sexta-feira (17/11), a Justiça local aceitou as acusações, e Robson Cândido se tornou réu.
Ele é acusado de cometer diversos crimes contra a suposta ex-amante, como stalking (perseguição); violência doméstica; grampo ilegal; peculato; e corrupção passiva. O sigilo do processo foi derrubado pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras nesta sexta-feira (17/11).
O ex-delegado-geral da PCDF teria começado a perseguir a vítima depois de ela terminar o relacionamento com ele, em abril último.
Dias após o rompimento, segundo detalhes do processo, Robson passou a usar outros números telefônicos, inclusive linhas corporativas e de servidores da PCDF, para fazer chamadas e encaminhar mensagens à vítima, pois havia sido bloqueado por ela.
Entre as falas delegado para a denunciante havia: “Pensei que você também me amasse e que tudo entre nós se resolveria”; “Amo você… Se você ainda quiser seguir comigo, me desbloqueia […]”; “Você é minha parceira!!”; “Amo você, meu amor!! Meus sentimentos por você são verdadeiros, me dá uma chance”.
Robson e a vítima teriam iniciado um caso em janeiro de 2022, segundo o processo. O relacionamento teria sido marcado por episódios de “controle e manipulação por parte do ex-delegado, tais como: comportamentos possessivos e ciumentos de forma habitual”.
Além disso, o ex-delegado-geral pedia frequentemente que a denunciante conectasse o WhatsApp dela ao celular dele, para ter acesso ao conteúdo das mensagens trocadas pela vítima no aplicativo.
Sem sucesso nas tentativas de contato por WhatsApp ou chamadas de voz pelo aplicativo, Robson enviou e-mails para a denunciante.
O ex-delegado-geral do Distrito Federal chegou a presentear a suposta ex-amante com um celular, “intencionando ter acesso à localização dela em tempo real, por meio da ferramenta ‘buscar o telefone’”, segundo as apurações do Ministério Público.
Outro trecho da denúncia detalha que Robson chegou a escalar o muro e a varanda da casa da vítima, para “forçar um contato pessoal na porta do quarto da mulher”.
Em agosto último, vigilantes fotografaram um carro da PCDF usado pelo ex-delegado-geral e parado perto da casa da vítima. Na ocasião, testemunhas encaminharam à denunciante o telefone de um batalhão da Polícia Militar, para que ela pedisse socorro.
Aposentadoria
Robson Cândido anunciou a aposentadoria pouco depois de o caso ser divulgado. Ele atuou como chefe-geral da PCDF por quatro anos e nove meses. No entanto, deixou o cargo em 3 de outubro último, um dia após a esposa e a vítima que alegou ser ex-amante dele registrarem denúncia na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).
Para embasar as acusações, promotores de Justiça reuniram elementos para sustentar que o investigado perseguiu a denunciante, surpreendeu-a diversas vezes na rua e em locais frequentados por ela, além de ter mantido grampos ilegais em aparelhos eletrônicos da vítima, mesmo depois de deixar o cargo máximo da PCDF.
Ajuda de outro delegado
Na denúncia, os representantes do MPDFT também afirmaram que o delegado teria usado sistemas restritos das forças de segurança para monitorar a suposta ex-amante e tentar contato com ela, inclusive com ajuda do então chefe da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte), Thiago Peralva.
O delegado é suspeito de inserir os dados da denunciante em um sistema de monitoramento, sem autorização, e também foi denunciado pelo MPDFT. Ele está afastado das funções e usa tornozeleira eletrônica por ordem da Justiça.
O Ministério Público acusou Thiago de interceptar, sem permissão judicial, o celular da vítima, a pedido do ex-delegado-geral. Ele e Robson Cândido teriam feito “manobras” nos autos de um processo criminal para inserir o telefone da denunciante em ações de monitoramento de suspeitos por tráfico de drogas.
“Nesse contexto, utilizando indevidamente o mencionado permissivo de monitorar interlocutores dos investigados, Thiago Peralva incluiu o telefone da vítima no sistema ‘Vigia’ [da PCDF], como se ela mantivesse algum tipo relacionamento com os suspeitos da prática do crime de tráfico de drogas”, detalhou a denúncia.
Metrópoles