No meio de um sol intenso e fazendo um trajeto que inclui duas horas de caminhada, seguida de viagem em uma lancha e depois travessia de canoa que a pescadora Antonia Edilene luta para conseguir a água da semana. Ela faz esse trajeto porque a água disponível no lugar em que ela mora já se misturou com a lama.
Edilene faz parte das mais de 600 mil pessoas afetadas com a seca no Amazonas neste ano.
“É muito difícil pra gente. A gente pensa logo na sede dos nossos filhos e que não tem água pra gente tomar. Eu fico pensando : Meu Deus! Quando é que vai voltar água de novo pra gente começar a andar normal?”, questiona a pescadora.
A pescadora mora na comunidade Jatuarana, que fica a 40 quilômetros da capital.
Na região, em que o único acesso é pelo Rio Negro, mais de 100 famílias passam pela mesma situação.
Com o rio seco, os bancos de areia se tornam mais visíveis e impactam uma comunidade acostumada com água em abundância.
A poucos quilômetros da casa de Edilene mora Camila, que também é pescadora. Para abastecer a casa com água e comida ela tem que inverter a forma em que é acostumada a fazer esse transporte: agora ela é quem precisa carregar a lancha com os mantimentos até em casa. No meio da água rasa ela faz esse percurso andando.
“Não tem como vir de rabeta. É puxando a canoa para chegar até o nosso destino. É mais ou menos uma hora pra vir de lá e chegar em casa”, detalha.
Operação facilita acesso
Para tentar diminuir os impactos causados pela estiagem em comunidades, uma força tarefa montada com órgãos públicos e concessionária de água em Manaus fazem a entrega de galões de água em regiões remotas.
A água distribuída passa por um laboratório para garantir a qualidade do item que chega até as famílias. Assim como acontece na distribuição da água na zona urbana, o que é captado do rio passa por processos de purificação, depois análises clínicas para em seguida ser distribuído.
De acordo com o coordenador de serviços da concessionária Águas de Manaus, Jean Damasceno, durante a estiagem deste ano, mais de 100 mil unidades foram levadas até a população.
“Hoje o laboratório realiza também todo o controle de qualidade dessa água que está sendo construída, garantindo que a mesma água de qualidade que a população aqui na sede do município recebe esteja chegando também a essas populações mais distantes e isoladas nesse momento”, ressalta.
Seca histórica no Amazonas
O Amazonas vive mais de 150 dias de vazante. Nesse período, os 62 municípios do estado foram afetados e mais de 600 mil famílias impactadas, seja com a dificuldade de locomoção, na produção rural ou acesso a serviços básicos.
Na capital, o Rio Negro atingiu o menor nível em 120 anos. No interior, o rio Solimões registrou o nível mais baixo em 55 anos.
Algumas cidades praticam racionamento de água para tentar lidar com a situação. De acordo com especialistas, a previsão é que o Rio Negro volte a subir no mês de novembro.
g1