Após a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, minimizando o compromisso de respeitar a meta fiscal, o mercado piorou as projeções para a taxa básica da economia (Selic) de 2024 e 2025. E sinaliza a piora nas estimativas para o resultado primário do próximo ano, chegando a prever rombo de até 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Pela nova meta fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisa zerar o rombo fiscal em 2024, mas essa missão é considerada impossível no momento. A confiança do mercado financeiro no governo, que vem encolhendo desde agosto, deu sinais de piora com as novas projeções do boletim Focus, do Banco Central, e o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que escorregou 0,68%, ontem, para 112.531 pontos.
A mediana das estimativas dos economistas para a Selic de 2024 coletadas no Focus, depois de 11 semanas com perspectiva estável em 9%, subiu para 9,25% ao ano. Mas há analistas que admitem que haverá novas revisões para cima.
As projeções para a Selic, atualmente em 12,75% ao ano, para o fim de 2023 foram mantidas em 11,75%. Ou seja, considera dois cortes pelo Copom, de 0,50 ponto percentual, nesta semana e em dezembro.
Houve leve piora na expectativa de crescimento da economia, em 2023, passando de 2,90% — no Focus da semana passada — para 2,89%, no desta semana. Para 2024, as estimativas para o crescimento do PIB ficaram estáveis em 1,50%.
Perspectivas
De acordo com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, as declarações de Lula tendem a piorar as perspectivas. “A fala do presidente confirmou uma expectativa do mercado, mas, ao escancará-la, trará dificuldades políticas para um ministro que está emparedado pelo resto do governo e o Congresso, lamentou.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, piorou as projeções para o rombo fiscal de 2024 em meio à má repercussão das falas de Lula. “Se no primeiro ano do arcabouço, o governo não vai realizar os sacrifícios para o cumprimento da meta, é baixa a probabilidade de que nos anos seguintes, especialmente em 2026, que é ano eleitoral, seja seguido”, afirmou.
Vilma Pinto, diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI), lembrou que como o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024 não foi aprovado pelo Congresso, ainda existe o risco de o governo mudar a meta fiscal. Ela ressaltou que existe um grande problema orçamentário, pois uma série de receitas é incerta — são matérias que dependem de aprovação do Congresso.
Pelas contas que faz, R$ 168,5 bilhões de R$ 276,4 bilhões de receitas previstas no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 precisam de aprovação do Legislativo.
Correio Braziliense