A Argentina realiza o primeiro turno das eleições presidenciais neste domingo, 22, em um cenário de disputa apertada. A maioria das pesquisas mostra o ultraliberal Javier Milei à frente, mas sem força suficiente para vencer no primeiro turno.
O jornal Clarín fez uma análise de 12 pesquisas divulgadas nos últimos dias antes da eleição, que mostram números muito variados. Além de mostrarem Milei à frente, diversos estudos mostram Sergio Massa, atual ministro da Economia e candidato de esquerda, em segundo lugar, mas a pouca distância de Patricia Bullrich, de centro-direita e ligada ao ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).
Em média, Milei tem ficado na faixa de 31 a 32% de preferência, com picos de 35%. Massa e Bullrich estão ao redor dos 25%, com vantagem para Massa na maioria dos estudos.
Para vencer em primeiro turno, é preciso somar ao menos 45% dos votos, ou 40% do total com 10 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado. O segundo turno está marcado para 19 de novembro. O próximo presidente tomará posse em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos, até dezembro de 2027.
Na Argentina, há muitos institutos de pesquisas eleitorais. O mercado não é dominado por algumas empresas, como ocorre no Brasil, o que faz com que os meios de comunicação divulguem estimativas que analisam vários levantamentos.
A lei eleitoral argentina proibiu a divulgação de novas pesquisas depois do dia 14 de outubro. Assim, não haverá publicações de novos números até o dia da eleição.
O desempenho dos candidatos na Argentina
A reta final da campanha eleitoral na Argentina, que começou no fim de agosto, não teve grandes reviravoltas até agora. Este cenário favorece Milei, que foi o mais votado nas primárias.
No campo econômico, houve uma piora da crise, com uma disparada do dólar. Logo após as primárias, o governo desvalorizou o peso e elevou o câmbio oficial em 22%. Assim, cada dólar passou a ser vendido por 365 pesos na cotação oficial. A paralela, chamada de dólar blue, teve alta bem mais forte e passou de 600 pesos por dólar, em agosto, para mais de 1.000 pesos no começo de outubro. Nos últimos dias antes da votação, o dólar blue teve recuo, para 900 pesos. Os argentinos reduziram as negociações, à espera do que pode ocorrer após as eleições.
A inflação também subiu nestes meses de campanha, e atingiu 138% ao ano em setembro.
Houve também divulgação de casos de corrupção envolvendo o governo, como o de Júlio “Chocolate” Rigau, um funcionário da Câmara dos Deputados que foi flagrado sacando dinheiro com 48 cartões diferentes e é suspeito de integrar um esquema de funcionários-fantasma para desviar dinheiro para campanhas.
Sergio Massa: sem queda forte
No entanto, analistas apontam que Massa, o candidato governista, não teve queda forte nas pesquisas mesmo após meses de problemas na economia. Massa não deixou a função de ministro durante a campanha, e tomou medidas como pagar benefícios extras para argentinos pobres e dar alguns descontos em impostos para empresas.
Uma das pesquisas, da empresa brasileira AtlasIntel, aponta Massa à frente, com 30,9% dos votos, seguido por Milei (26,5%) e Bullrich (24,4%).
Patricia Bullrich: sem impulso
Bullrich buscou encarnar o discurso anti-governo e assumir uma postura de oposição responsável, para se contrapor ao radicalismo de Milei, mas não conseguiu ganhar impulso.
Na reta final da campanha, ela recebeu apoio mais enfático de Horacio Laretta, prefeito de Buenos Aires e que teve 11% dos votos nas primárias. Ele foi apontado como futuro chefe de gabinete, em caso de vitória do partido. No entanto, não há garantia de que todos os eleitores de Larreta votem em Bullrich.
Javier Milei: aposta em medidas radicais e ataques à classe política tradicional
Já Milei manteve a defesa de medidas radicais, como dolarizar a economia e fechar o Banco Central, os ataques à classe política tradicional e o uso de palavrões. Ele moderou o discurso em alguns pontos, como a mudança climática, que reconhece existir, embora questione a responsabilidade humana sobre isso.
“Os argentinos irão as urnas com um forte sentimento de desaprovação, não somente ao atual governo, mas também ao sistema político como um todo. Será um pleito marcado por uma busca pela mudança política. Isso obviamente beneficia os candidatos de oposição e principalmente Javier Milei, que se coloca como de fora da política”, avalia Mauricio Moura, analista político, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, e professor da Universidade George Washington.
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