Os três militares suspeitos de terem vazado informações confidenciais sobre viagens do presidente Lula ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, fizeram parte da preparação de 28 viagens do petista desde janeiro de 2023.
Os dados constam do Portal da Transparência.
As mensagens foram enviadas a Mauro Cid quando ele estava nos Estados Unidos acompanhando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que jamais reconheceu sua derrota eleitoral para Lula. Os e-mails continham detalhes das viagens de Lula a Pequim e Xangai, na China; a Foz do Iguaçu e Boa Vista, no Brasil, além de informações sobre três eventos realizados em Brasília com a presença do presidente.
O envio das mensagens aconteceu entre 6 e 13 de março de 2023. A Polícia Federal encontrou as mensagens na lixeira das caixas de correio dos militares, de acordo com a GloboNews.
Os três militares assumiram seus postos no Departamento de Coordenação de Eventos, Viagens e Cerimonial Militar, subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, quando o ministro deste era o general Augusto Heleno.
Márcio Alex da Silva, militar do Exército, assumiu o posto em 12 de janeiro de 2021 e teve sua permanência no cargo renovada em 8 de março deste ano, quando o GSI de Lula era comandado pelo general Gonçalves Dias.
Dionne Jeferson Freire, militar da Marinha, teve seu vínculo com o departamento iniciado em 20 de dezembro de 2019 e renovado em 16 de junho de 2023, já sob o substituto de Gonçalves Dias, o general da reserva Marcos Antônio Amaro dos Santos.
Rogério Dias Souza, também da Marinha, assumiu o cargo em 20 de abril de 2021 e teve o término de seu vínculo em 26 de maio deste ano.
Os cargos ocupados por eles são muito desejados por militares, por causa das diárias de viagens.
Juntos, os três militares fizeram 124 viagens nacionais e internacionais, sendo 96 a serviço de Jair Bolsonaro e 28 durante o governo Lula.
Rogério Dias Souza, por exemplo, esteve em duas das viagens cujos dados chegaram a Mauro Cid: nos dias 20 e 21 de janeiro foi a Boa Vista, Roraima; de 20 a 30 de março e de 6 a 16 de abril esteve em Xangai, na China, sempre de acordo com dados públicos do Portal da Transparência. O presidente Lula desembarcou em Xangai no dia 12 de abril, o que indica que Rogério fez parte do grupo avançado do GSI que planejou a viagem.
Em junho deste ano, Rogério recebeu um total de R$ 17.332,59 do governo federal entre soldo, salário e gratificações.
Nas viagens sob Bolsonaro e Lula, os três militares acumularam R$ 162.619,49 em diárias.
Marcio Alex da Silva, do Exército, cuidou de viagens de Lula a Montevidéu, Londres e Paris. Em junho de 2023, ele acumulou o soldo de R$ 24.751,49 com o salário de R$ 2.172,28 e mais R$ 459,64 em gratificação.
Dione Jefferson Freire, da Marinha, foi o melhor remunerado em junho de 2023. Recebeu um total de R$ 28.776,90. O militar da Marinha integrou a comitiva de Lula em viagens à China e Bélgica.
Segundo o GSI, os militares foram afastados de suas atividades por causa da suspeita de terem repassado informações sigilosas indevidamente a Mauro Cid.
Não é a primeira polêmica envolvendo o órgão.
O general Gonçalves Dias, considerado um amigo pelo presidente Lula, deixou de informá-lo sobre a existência de imagens que registravam a presença de militares do GSI em contato com invasores do Palácio do Planalto na tentativa de golpe de 8 de janeiro.
As imagens flagraram o major do Exército José Eduardo Natale Pereira dando água a golpistas. O major também interveio para evitar que a Tropa de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal fizesse prisões dentro do Palácio do Planalto, de acordo com fonte da Revista Fórum que é servidor da Polícia Federal.
Já o general Carlos Feitosa Rodrigues, também do GSI, foi quem emitiu, no dia 7 de janeiro, o informe que reduziu o contingente de agentes de plantão no domingo, 8. Ele foi flagrado conversando com invasores. Na véspera, tinha enviado o e-mail para a preparação da visita de Lula a Araraquara, no interior de São Paulo.
O major Natale e o general Feitosa acompanharam Jair Bolsonaro em sua viagem a Moscou, em fevereiro de 2022.
Revista Forum/Luiz Carlos Azenha