O ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o “Suel” — apontado como um dos intermediadores da contratação do assassino de Marielle Franco, cujos disparos mataram também o motorista da vereadora, Anderson Gomes —, chegou ontem a Brasília, onde ficará preso no Penitenciária Federal (PFBRa), de segurança máxima, próximo ao Complexo da Papuda. Ele foi preso na segunda-feira, em casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e é considerado um elo forte de um crime que se arrasta há cinco anos em busca de elucidação.
A princípio, “Suel” ficará no PFBra até que a Justiça e o Ministério Público decidam o melhor lugar para mantê-lo fora do alcance do crime organizado. O temor das autoridades é que ele tenha o mesmo fim de Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, sargento reformado da Polícia Militar que foi executado em 2021, em plena luz do dia, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Macalé seria outro dos intermediários entre Ronnie Lessa, o homem que fez os disparos contra Marielle e Anderson, e o mandante do crime — que ainda é desconhecido. Além disso, o ex-sargento da PM também teria levantado informações sobre a rotina da vereadora, que serviram para a preparação da emboscada.
Marcado
Ao delatar formalmente Ronnie Lessa como executor da vereadora e do motorista, o ex-policial militar Élcio de Queiroz passou a ser, para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e a Polícia Federal (PF), uma testemunha marcada para morrer. Ele era o motorista do Chevrolet Cobalt prata de onde partiram os disparos fatais. Está preso desde 2019 e foi transferido para Brasília em junho, depois de passar pelas unidades prisionais de Mossoró (RN) e de Porto Velho (RO). Sob vigilância severa, Élcio ocupa uma cela individual e tem pouco contato com outros presos.
Os remanejamentos para complexos penitenciários fora do Rio fazem parte da estratégia de proteção dos suspeitos, que, a partir da delação premiada de Élcio, passaram a ser alvos de retaliação do crime organizado. Investigações do MP-RJ, da PF e da Polícia Civil fluminense apontam ligações do ex-PM e “Suel” com milícias e esquadrões da morte que atuam na Zona Oeste e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Para o cientista político e especialista em segurança pública Antônio Flávio Testa, o instinto de sobrevivência deu o tom da delação premiada de Élcio, que se viu abandonado pelos antigos parceiros. “É uma pessoa marcada para morrer. É peixe pequeno na organização (criminosa), não tem importância do ponto de vista político. Mas pode ajudar a entregar (os mandantes)”, afirma o acadêmico.
Testa não considera presídios como lugares seguros para preservar a vida do delator, já que, na maioria das unidades do país, os detentos seguem ordens das principais facções criminosas do Rio de Janeiro e de São Paulo — o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC), respectivamente. “Ele deveria ficar sob a guarda do Estado em um quartel da PM ou do Exército”, aconselhou Testa.
Carro próprio
A primeira prisão decorrente da delação premiada de Élcio foi a de “Suel”, no âmbito da Operação Élpis. Em 2020, ele foi condenado a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações do assassinato e cumpria a pena em regime aberto.
Segundo Élcio, “Suel” cedeu o próprio carro para armazenar o arsenal de Ronnie Lessa. Depois, um de seus comparsas, Josinaldo Freitas — o Djaca —, jogou no mar a arma usada para atirar em Marielle e Anderson.
Élcio afirmou à PF que recebeu, durante meses, pelo menos R$ 5 mil de “Suel”, dinheiro que o ajudava a atravessar a crise financeira decorrente da expulsão da PM. Há cerca de um ano, conforme contou à polícia, a mesada foi reduzida, até que deixou de ser depositada.
O ex-PM foi convencido a colaborar com a investigação após desconfiar de Ronnie Lessa. Segundo ele, o matador garantiu, na época dos assassinatos, que não havia feito pesquisas sobre Marielle. Élcio, no entanto, descobriu que o amigo havia mentido e que a polícia sabia do planejamento do crime.
Correio Braziliense com a colaboração de Renato Souza