Uma mulher de 39 anos deu entrada na madrugada de ontem no Hospital de Base de Brasília, com hemorragia ativa na cabeça. Motivo: ela foi atingida por uma paulada na cabeça, desferida pelo próprio companheiro, com quem vive em uma casa na área rural da Fazendinha, no Recanto das Emas.
O homem foi preso em flagrante por tentativa de feminícidio e disse que a agressão ocorreu durante uma discussão entre o casal. À Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), ele alegou legítima defesa. Disse que a mulher corria atrás dele com uma faca no momento do ataque.
As informações serão investigadas pela Polícia Civil no curso do inquérito. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), até maio deste ano, o DF registrou 32 tentativas de feminicídio. O número representa o equivalente ao total de ocorrências de 2021 e a 61,53% de todos os casos de 2022.
Há menos de um mês, em 30 de junho, o Distrito Federal chegou a marca de 20 feminicídios apenas neste ano. A mais recente vítima foi Patrícia Pereira, de 41 anos, que foi assassinada pelo próprio marido, Bruno Moraes, 39, dentro de casa. O crime ocorreu na Quadra 3, do Setor Leste do Gama, e foi presenciado por um dos filhos do casal, de 14 anos, e de uma jovem de 22 anos, fruto de outro relacionamento da vítima. Após cometer o crime, Bruno fugiu em uma caminhonete.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), a vítima foi atingida no pescoço por um disparo e encontrada já sem sinais de vida quando os socorristas chegaram. O Correio apurou que o casal vivia uma relação conturbada, marcada pelo ciúmes doentio de Bruno.
O assassinato aconteceu três dias após o 19° feminicídio do ano. Na madrugada de 27 de junho, Claudia Barbosa de Melo, 40, foi esfaqueada pelo companheiro, João Paulo Sousa França, 26, no Recanto das Emas, no meio da rua. A perfuração causou lesões na medula cervical, resultando na paralisia dos membros inferiores. Após a agressão, Claudia foi levada para o Hospital Regional de Taguatinga, onde morreu dois dias depois. Assim como Bruno, João fugiu da cena do crime, mas foi preso ao tentar acessar o local onde a mulher estava internada.
O curto período de tempo entre os crimes tem se tornado comum no Distrito Federal. Em um espaço de dois dias, Emily Talita da Silva, 20 anos, e Valdice Santana, 47, foram vítimas de feminicídio. Emily foi morta pelo ex-namorado com uma facada nas costas na Chácara 64, no Sol Nascente, na manhã de 24 de junho. Segundo a PMDF, os dois estavam bebendo em uma distribuidora, quando tiveram um desentendimento, que resultou na agressão. A vítima já havia pedido uma medida protetiva contra o suspeito, Jonas Costa, de 29 anos.
Pouco mais de 24h depois, o feminicídio fez mais uma vítima. Desta vez, o pedido de socorro veio do próprio companheiro, Bruno Gomes de Oliveira, 27, que morava com Valdice. Segundo a PMDF, o suspeito contou aos policiais que ele e a namorada estavam bebendo desde às 18h do domingo e que às 22h o casal se deitou para dormir. No entanto, de acordo com Bruno, ele acordou às 5h e se surpreendeu ao perceber que o corpo de Valdice estava gelado.
Após o homem pedir ajuda no quartel do Corpo de Bombeiros (CBMDF), os socorristas foram à casa do casal e declararam a morte da mulher, mas não identificaram sinais de violência no corpo dela. No entanto, no momento de registro da ocorrência, a delegacia acionou a perícia, que encontrou indícios de asfixia por estrangulamento, suspeita confirmada pelo médico legista.Bruno foi preso em flagrante por feminicídio.
De acordo com o delegado-chefe da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), Érico Vinicius, familiares de Valdice relataram que brigas entre o casal eram constantes e que Bruno tem problemas ligados ao consumo de drogas e bebidas alcoólicas. Além disso, o suspeito conta com outras passagens pela polícia, incluindo um registro de denúncia pela Lei Maria da Penha contra ele feito por outra namorada, em 2021.
Sigilo
Até o fechamento desta edição a Secretaria de Saúde do DF, não havia informado o estado de saúde da mulher, vítima de tentativa de feminicídio no Recanto das Emas, transferida para o Hospital de Base de Brasília, em função da legislação sobre sigilo de prontuário e informações sobre os pacientes atendidos na rede pública de saúde.
“Essa medida, que resguarda o paciente e a equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, que veda médicos fazerem referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente”, esclarece.
Correio Braziliense