Reino Unido começa 14 dias de homenagens e prepara funeral para Elizabeth II

Aos 96 anos, a monarca britânica mais longeva morre no castelo de Balmoral, na Escócia. Charles, o filho primogênito, é o novo rei da Inglaterra

Foto: AFP

Em 2 de junho de 1953, ao ser coroada rainha da Inglaterra e 15 meses depois de herdar o trono do pai falecido, George VI, ela declarou: “Para toda a vida e com todo meu coração, me esforçarei em ser digna de vossa confiança”. Após ocupar o trono por 70 anos e 127 dias, Elizabeth Alexandra Mary Windsor cumpriu sua missão. Na tarde de ontem, aos 96 anos, a rainha Elizabeth II saía de cena, deixava órfãos milhões de súditos e se eternizava como um pilar da monarquia britânica, no momento em que o Reino Unido atravessa uma de suas principais crises econômicas e energéticas.

O fim do reinado britânico mais longevo foi anunciado às 18h30 (14h30 em Brasília) em um comunicado do Palácio de Buckingham. “A Rainha morreu pacificamente em Balmoral (castelo na Escócia, 800km ao norte de Londres), nesta tarde. O rei e a rainha consorte (Camilla Parker Bowles) permanecerão em Balmoral esta noite e retornarão a Londres amanhã (hoje)”, afirma. O filho primogênito, príncipe Charles, 73, assumiu automaticamente o trono e adotou o nome de rei Charles III. No entanto, a coroação do novo rei somente deve ocorrer dentro de um ano.

Às 16h, Charles divulgou nota sobre o falecimento da mãe, intitulada Declaração de Sua Majestade O Rei na Hora da Morte da Rainha. “A morte da minha querida mãe é um momento de grande tristeza para mim e para todos os membros da minha família. Choramos profundamente a perda de uma soberana e uma mãe muito querida. Sei que sua perda será sentida profundamente em todo o país, nos reinos e na Commonwealth, assim como por inúmeras pessoas em todo o mundo”, afirmou.

Hoje, o novo rei terá uma audiência com a premiê britânica e fará um discurso para a Commonwealth. Charles III também assinará os planos funerários completos — a previsão é de que o funeral de Estado ocorra dentro de 10 dias. O primeiro dos 14 dias de luto oficial terá uma salva de canhões em homenagem à rainha, em Hyde Park e em Tower Hill. No Parlamento, a Câmara dos Comuns fará uma sessão especial em tributo à rainha, a partir do meio-dia (8h em Brasília), com duração de 10 horas. Amanhã, às 14h (hora local), os parlamentares prestarão o juramento de Charles III. No mesmo dia, o Conselho de Ascensão, órgão formado por figuras do governo e conselheiros privados, se reunirá no Palácio de St. James e proclamará o novo rei.

O falecimento de Elizabeth II provocou comoção em todo o Reino Unido e nos 14 países da Comunidade das Nações (Commonwealth), incluindo o Canadá. Uma multidão se reuniu diante do Palácio de Buckingham, em Londres, para acompanhar a descida da bandeira a meio-mastro e escutar o hino nacional, God save the Queen. O jornal The Guardian informou que o caixão com o corpo da rainha será levado, por terra, de Balmoral até o Palácio de Holyroodhouse, também na Escócia. De lá, o cortejo seguirá para uma cerimônia na Catedral de Santo Egídio, em Edimburgo, onde o caixão será exposto por 24 horas, antes de ser encaminhado para Londres. Na capital, uma carruagem conduzirá o corpo do Palácio de Buckingham até o Palácio de Westminster, sede do Parlamento, para visitação pública. O funeral de Estado ocorrerá na Abadia de Westminster.

Antes do anúncio oficial, um comunicado dos médicos de Elizabeth tinha deixado o planeta em alerta. “Após uma nova avaliação esta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob vigilância médica”, afirmava o texto, segundo o qual a monarca estava “confortável”. Charles e os irmãos, a princesa Anne, 72; o príncipe Andrew, 62; e o príncipe Edward, 58, embarcaram imediatamente em um avião rumo a Bamoral. O príncipe Harry, filho de Charles, e a esposa, Meghan, também partiram da Califórnia, onde vivem desde 2020, quando abandonaram a monarquia.

Na última foto tirada em vida, publicada na terça-feira, Elizabeth II aparecia recebendo a visita de Liz Truss, quando convidou a primeira-ministra a formar um novo governo. Na imagem, chamou a atenção a coloração roxa das mãos da soberana, que deixa quatro filhos, oito netos e 12 bisnetos. Em breve declaração na entrada da Downing Street — residência oficial do governo —, Truss disse que a morte da rainha é “uma grande comoção para a nação e para o mundo”.

Ao longo de quase uma vida inteira dedicada ao trono, Elizabeth II sobreviveu a uma série de turbulências, como a morte do esposo, o príncipe consorte, Philp, em abril de 2021; os escândalos sexuais envolvendo Andrew; a ruptura de Harry e de Meghan com a família real, em 2020; e a morte da princesa Diana em um acidente, em 1997.

Legado
Jornalista do The Independent e especialista em família real, Sean O’Grady disse que Elizabeth II carregava uma aura única e desempenhava o papel de amálgama em uma sociedade dividida pelo Brexit (o divórcio entre Reino Unido e União Europeia). “A rainha foi muito amada e respeitada. Sua perda afeta a muitos de nós duramente. Ela será lembrada com um carinho enorme — somente britânicos com mais de 80 anos podem se lembrar de qualquer outro chefe da nação”, comentou. “Elizabeth II mostrou-se onipresente e fez parte de nossas vidas desde 1952, quando ascendeu ao trono. É difícil imaginar as coisas sem ela. Em tempos difíceis, foi uma grande fonte de continuidade e de conforto, e símbolo de unidade durante o Brexit, especialmente.”

Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham, considerava de grande importância “a personalidade e o senso de humor de Elizabeth II, revestidos de ritual e de grande dignidade”. “Ela não precisava usar uma coroa nem se vestir para ser admirada. Pesquisas apontavam que um em cada cinco britânicos a viram pessoalmente, e isso ocorreu comigo em cinco ocasiões. Milhões de súditos olhavam para ela com grande carinho”, disse ao Correio.

Eu acho…
“A rainha era um fio de ouro na vida de nossa nação desde fevereiro de 1952, quando sucedeu o pai. Mas também na vida de famílias britânicas. Eu nasci em 1948, pouco antes de Elizabeth II se tornar monarca. Desde sempre ela estava ali, um elemento de continuidade e de estabilidade em um país que tem atravessado grandes mudanças. Elizabeth II era uma mãe britânica, decente, talvez um pouco fria. Tinha verdadeiro amor pelos cavalos e cães. Mas mantinha suas vidas pública e privada separadas. Talvez ela tenha compreendido mal a morte de Diana e a admiração pública pela princesa. Mas, Elizabeth II aprendeu.”

Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham
Brasil decreta luto de três dias
O presidente Jair Bolsonaro decretou três dias de luto oficial pela morte de Elizabeth II. “Nesta data triste para o mundo, decretamos três dias de luto oficial e convidamos todo o povo brasileiro a prestar homenagens à rainha Elizabeth II. Deus salve a rainha”, escreveu Bolsonaro no Twitter. Com a decisão, o Palácio do Planalto já exibia, na tarde de ontem, a bandeira do Brasil a meio-mastro. Segundo Bolsonaro, Elizabeth “não foi apenas a rainha dos britânicos, mas uma rainha para todos nós”. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o governo recebeu, “com profundo pesar”, a notícia do falecimento e lembrou a vinda da monarca ao Brasil. “Sua visita em 1968, ao lado do Duque de Edimburgo, a Recife, Salvador, Brasília, São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro é lembrada (…) como marco da amizade entre o Brasil e o Reino Unido. Rememorar a visita (…) é valorizar a parceria estratégica entre o Brasil e o Reino Unido”, afirma a nota do Itamaraty.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CB

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