Os presidentes de MDB, PSDB e Cidadania deliberaram nesta quarta-feira (18) levar às direções de cada sigla o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para ser escolhida a candidata única dos três partidos.
A decisão ocorreu após análise dos resultados de uma pesquisa encomendada pelas siglas que, segundo interlocutores, apontou alta rejeição do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).
O levantamento também indica, de acordo com quem teve acesso aos resultados, que Tebet seria o nome com maior possibilidade de crescimento. A realização da sondagem foi a estratégia que tucanos lançaram para tentar isolar Doria e suspender sua candidatura ao Palácio do Planalto.
Aliados de Doria rebatem e alegam que ele pontua à frente da emedebista em intenções de votos; e que, portanto, não é possível concluir que Tebet é a melhor alternativa.
Sem confirmar que a senadora Tebet foi o nome escolhido após a análise do levantamento, os presidentes de MDB, PSDB e Cidadania afirmaram terem chegado a um consenso, que será levado para referendo das executivas e bancadas partidárias em reuniões na próxima terça (24).
Os detalhes da pesquisa realizada não foram oficialmente divulgados.
A conclusão geral, de acordo com interlocutores, foi que Tebet é menos conhecida e tem mais potencial de crescimento em campanha.
Até agora, nenhum dos dois decolou nas pesquisas e acompanham à distância a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL). No último levantamento da Quaest, Doria tem 3% contra 1% de Tebet.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o PSDB tem aumentado a pressão para que Doria desista da sua candidatura. Depois de uma reunião da executiva do partido na terça (17), ficou acertado que líderes da sigla levarão ao ex-governador o diagnóstico da sua inviabilidade eleitoral. E há expectativa de parte do PSDB de que ele desista da corrida eleitoral, algo que seus aliados negam.
Segundo o entorno de Doria, o ex-governador deve pedir na reunião mais tempo ao partido para colocar a campanha na rua e provar sua viabilidade. Dessa forma, o ex-governador trabalha para que a escolha da terceira via seja deixada para o período mais próximo das convenções, entre julho e agosto.
O encontro deve ocorrer na segunda-feira (23), em São Paulo, antes da reunião dos partidos marcada para terça, que pode chancelar o apoio a Tebet. Aliados do ex-governador não veem possibilidade de que ele apoie Tebet com base na pesquisa.
O ex-governador afirmou, pelo Twitter, que “o momento é de diálogo”. “O projeto de construção política deve priorizar o Brasil e o povo brasileiro”, publicou.
“Parabéns. Essa é a atitude de um líder que tem compromisso com o seu país”, respondeu na rede o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
Numa carta enviada no sábado (14) a Araújo, Doria sinalizou que pode recorrer à Justiça para garantir sua candidatura, uma vez que ele venceu as prévias do partido organizadas no ano passado.
A estratégia de judicialização, no entanto, perdeu força. Doria foi aconselhado a não forçar o embate com o partido nos tribunais.
Nesta quarta-feira, o governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP), apesar de aliado de Doria, defendeu o acordo com a terceira via para que se apresente um nome “com chances reais de ser uma alternativa” e criticou a judicialização.
“Sempre defendo o entendimento pela política. Quando precisa ir ao judiciário, não é mais política”, disse.
“Tenho certeza de que vamos encontrar um bom caminho, com o PSDB ao lado do Cidadania e MDB, que hoje compõem essa frente democrática, de que nós tenhamos, sim, uma alternativa pra apresentar ao Brasil.”
“A alternativa que o PSDB apresenta é o governador João Dória, isso é incontestável. O que existe é uma discussão se, dentro de critérios a serem apresentados hoje junto ao MDB, nós tenhamos também a possibilidade de avaliação de uma candidatura da senadora Simone Tebet”, completou.
Interlocutores de Doria dizem ainda que não há um plano B para ele, apenas a candidatura ao Planalto, e que a judicialização seria o último caminho.
Num recuo, auxiliares do ex-governador dizem que a intenção da carta foi abrir um diálogo e não de ameaçar recorrer aos tribunais.
“A carta foi um equívoco. Não tem um fato para ser judicializado”, afirma o tesoureiro César Gontijo, aliado de Doria. “Nada e ninguém pode tirara a condição de Doria de ser candidato, a não ser ele desistir, algo que não está no dicionário dele.”
“Doria vai buscar entendimentos, está aberto a qualquer conversa. Mas ficou claro [na terça]: pra ele sair, depende dele. Qualquer coisa tem que ser discutida com ele. O que o partido não pode é não ter candidato, o PSDB sempre apresentou proposta para o Brasil em seus 34 anos”, completa.
A estratégia de Doria é ganhar tempo e os tucanos que o apoiam esperam que o partido atenda a esse pedido e deixe a discussão da coligação para os próximos meses.
“Se o partido der a oportunidade de ele falar com a sociedade em vez de ficar internamente debatendo uma situação que já foi resolvida nas prévias, se o partido der esse alívio, quem sabe ele possa fazer campanha. O partido tem que dar uma trégua”, afirma Gontijo.
Integrantes da equipe de pré-campanha de Doria avaliam ainda que o PSDB não tem argumentos contra sua candidatura, já que judicialmente ele está respaldado pelas prévias e, em termos de pesquisa, apareceu novamente à frente de Tebet em levantamento da Quaest feito a pedido da CNN e divulgado nesta quarta.
Os tucanos pró-Doria dizem ainda que não rejeitam um acordo com o MDB, mas preveem que cada partido lance seu candidato, já que um não aceitaria ser vice do outro. Usar a pesquisa como critério, apontam, seria frágil.
A leitura é a de que Doria só desistiria se houvesse um outro nome da terceira via muito à frente nas pesquisas, o que não é o caso. Não há fato, na visão deles, que justifique abandonar a corrida, principalmente considerando que Doria também começou de baixo e venceu os dois últimos pleitos.
Os dados do levantamento encomendado pelos partidos para nortear a escolha do candidato único foram coletados no final de semana.
O Instituto Guimarães ouviu 2.000 pessoas em 23 estados. Segundo pessoas que acompanham o processo, o levantamento tem informações como intenção de voto, rejeição dos nomes e também avaliação sobre 30 atributos.
Das qualidades aferidas, algumas foram sugeridas pelos marqueteiros de ambos os pré-candidatos do MDB e do PSDB.
A sondagem não foi registrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por isso os dirigentes partidários não divulgaram publicamente seus dados. Disseram apenas que ela aponta que a maioria da população rejeita a polarização existente entre Bolsonaro e Lula.
“Hoje, nós tivemos uma reunião ampliada com líderes importantes do Cidadania, com líderes do PSDB e do MDB para que a gente pudesse, em conjunto, buscar essa unidade. Na próxima terça, cada um dos partidos vai se reunir para que a gente ofereça ao país uma alternativa a essa polarização que não está melhorando a vida dos brasileiros”, afirmou o presidente do MDB, Baleia Rossi.
“Chegamos a um consenso e vamos na terça colocar isso às direções partidárias”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire.
“A garantia precisa ser ratificada pela autoridade política das comissões executivas e bancadas”, disse o presidente do PSDB.
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