Em clima de empolgação, a feira AgroBrasília iniciou a edição deste ano com a promessa de atender as altas expectativas de tecnologias e inovações dos produtores. Durante os cinco dias de programação, o evento deve receber entre 90 mil e 120 mil visitantes, e o volume de negócios deve alcançar R$ 3 bilhões. O encontro começou nesta terça (17/05), às 8h30, e segue até este sábado (21/05), com uma programação de debates, cursos e palestras envolvendo técnicas e pesquisas sobre as últimas novidades para os produtores rurais.
A mostra conta com 500 expositores e foi ampliada desde a última edição presencial, em 2019, antes da crise sanitária do novo coronavírus. Presidente da AgroBrasília, Ronaldo Triacca explica: “Para esta edição tivemos de ampliar ruas e asfaltar acessos para que fosse possível receber o público e os expositores. O produtor estava sentindo falta desse contato olho no olho, desse espaço comparativo em que pode ver tanta tecnologia em um único lugar. A AgroBrasília já é importante em todo o Planalto Central, com destaque que não se limita ao DF”, acentua.
Um dos empresários com altas expectativas é Weverthon de Souza, da Agrovisão máquinas agrícolas. “É nossa primeira vez aqui na feira, mas esperamos vender bastante, algo em torno de R$ 10 milhões nos dias de evento. Nesta quarta (18/05), mesmo sendo o primeiro dia, já vieram muitos clientes com intenção de negócio”, conta. O empresário também detalha algumas novidades do mercado que podem despertar a atenção dos produtores. “Temos plantadeiras, semeadeiras, máquinas com tanque de inox, pulverização, tração independente por roda e baixo consumo de diesel. Esses são grandes atrativos para quem está interessado no maquinário”, afirma.
O evento continua, hoje, com iniciativas voltadas para as estratégias e os rumos para a agricultura equilibrada e sustentável, com abordagem sobre a construção de perfil e manejos de solo. Durante a tarde, o auditório principal será palco de palestras sobre o bioinsumo, referente às alternativas de correção e adubação diante do atual cenário, com palestra de hidroponia no auditório anexo.
A realização do evento é da Cooperativa Agropecuária da Região do DF (Coopa-DF), que reúne cerca de 200 associados. João Guilherme Brenner, presidente da entidade, afirma que a região do Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF) se destaca na produção de sementes e na qualidade dos seus produtos. “Esse foi o motivo que tornou a feira tão forte. E nesses cinco dias de evento teremos muitas empresas inovadoras e disputas entre startups no InovaAgroBrasília, por exemplo. O setor agro está sempre se inovando, e dois anos sem o evento presencial é o suficiente para que agora tenhamos muito a mostrar”, garante.
Todas as idades
Os produtores rurais não são os únicos envolvidos com a AgroBrasília. Os alunos da escola Sousa Lima, do distrito Marajó, de Cristalina (GO), encantaram-se ao passear pelo Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, que fica a cerca de 70km do centro da capital do país, no PAD-DF.
Os estudantes do turno matutino do colégio estavam no evento. Ao lado do boi Baru, da raça Senepol, de mil quilos, as crianças, de 10 a 11 anos, abraçaram o animal, e se divertiram com a proximidade ao bicho gigantesco.
A professora da turma, Renata Nogueira, estava à frente da excursão. “Vieram 16 alunos da minha turma. Está bem interessante, eles estão gostando muito. Alguns deles já visitaram a feira em outras edições, mas muitos estão vindo pela primeira vez”, salienta.
A pedagoga afirma que a experiência é importante pela interdisciplinaridade de conteúdos. “Tem a questão de eles passearem, saírem um pouco e ter esse contato com os animais, os cavalos e os bois. E isso tudo se reflete em conteúdos de ciência e geografia dentro de sala de aula, por exemplo”, pontua.
Proprietária do Espaço Senepol, Danielle Perdigão detalha que a raça é utilizada para a produção de carne nobre. “O Senepol é uma raça taurina, produzida no Caribe, selecionada para se adaptar ao clima tropical. Eles são muito dóceis e costumam ser padronizados, com características predominantes. O Senepol também tem resistência a pragas, como carrapatos, pelagem curta e resistência ao calor”, destaca.
Cada boi cobre 40 vacas, segundo Danielle. “Essa já é a quarta edição da feira que participamos e todo ano ela oferece resultados bem positivos. Além dos touros que vendemos aqui, durante uns seis meses continuamos conversando com clientes que captamos aqui”, assegura.
Luiz Perdigão, do Espaço Senepol, afirma que a projeção é vender de 10 a 12 animais. “O valor de um animal entre um ano e meio e dois anos varia de R$ 18 mil a R$ 25 mil. Tem os animais com características mais puras, e o Senepol também tem o que chamamos de conversão, pois comem menos e engordam mais. Isso gera mais lucro para o proprietário”, salienta.
Indígenas no agronegócio
Outros pontos abordados na AgroBrasília são a sustentabilidade e a preservação das terras. A Cooperativa dos Povos Indígenas de Mato Grosso estará na feira todos os dias, próximo à Fundação Nacional do Índio (Funaí) na defesa desses ideais. Representando os povos Haliti, Nambikwara e Manoki, a Coopihanama esteve no local e mostrou o serviço que os indígenas realizam nas terras. Kevelen Zokezomaiake explica que o trabalho visa benefícios para as aldeias, sem prejudicar a terra. “Apenas 1,7% do nosso território é usado para plantio, o contrário que acontece nas demais propriedades, em que mais de 98% é usado no plantio. E quem escolheu essas regiões foram os anciãos da tribo, para não prejudicar a caça, as nascentes nem a produção de alimentos”, afirma. “Somos indígenas agricultores, mas preservamos a nossa reserva”, acrescenta.
Ligia Apodonepa, do povo Paresi, conta que quando os engenheiros e técnicos foram fazer o estudo da terra, ficaram surpresos porque os anciãos haviam escolhido para os locais de plantações regiões que ficavam longe das fontes, com bom solo, e que não prejudicava o funcionamento da floresta. “Eles tinham escolhido o lugar perfeito para a plantação somente utilizando o conhecimento empírico”, pontua.
Ela ressalta que cada comunidade desenvolve outras atividades além do plantio, para não ficarem dependentes apenas da agricultura. “Trabalhar com a terra nos dá uma garantia de qualidade de vida e geração de renda, além da questão de valorização territorial. Porque se eu dependo daquela terra, passo a valorizar mais aquele espaço. O nosso principal foco é mostrar para a sociedade que é possível, sim, produzir e, ao mesmo tempo, preservar. E continuamos com os nossos costumes. Antes de cada colheita, por exemplo, fazemos o nosso ritual de agradecimento à terra”, assegura.
Na safra de 2020/2021, as lavouras das cooperativas produziram mais de 400 mil sacas de soja e 150 mil sacas de feijão. Na safrinha, segundo a Coopihanama, foram colhidos 350 mil sacas de milho pipoca e 100 mil sacas de feijão Mungo, Caupu e Azuki.
A cooperativa conta com mais de 3 mil beneficiários e atualmente luta por linhas de crédito para projetos de agricultura familiar. Ligia explica que “os outros produtores têm esses recursos e, com isso, conseguem competitividade em seus produtos. Nós não, o que faz com que o nosso retorno seja menor, se comparado ao dos produtores”.
Kevelen acrescenta que é necessário que a aldeia tenha produtividade para competir com os outros fazendeiros. “Com esses recursos, aplicamos na aldeia, dando mais oportunidade de educação para as nossas crianças, agindo quando é necessário atendimentos médicos, ou proporcionando acesso a cultura”, finaliza.
CB