Páscoa menos doce: presentes de chocolate estão 15% mais caros

Apesar da alta nos preços do chocolate, a expectativa do comércio é de aumento nas vendas em 2022

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Foto: Minervino Júnior

Uma das épocas marcadas pelo aumento do consumo de chocolate estará menos “doce” este ano. Isso porque os ovos de Páscoa e outros itens produzidos a partir do cacau sofrem com a alta do preço do fruto, assim como o aumento dos custos operacionais para produção de chocolates e derivados. O aumento dos combustíveis é um dos vilões para quem costuma encher o carrinho nesta época do ano. Estima-se que os produtos estejam até 15% mais caros em relação ao ano passado. Apesar da alta de preços para os consumidores, o setor de comércio é otimista e espera um aumento de 18% nas vendas.

Um levantamento feito pela Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) aponta que a venda de ovos de Páscoa e produtos da época devem apresentar um crescimento considerável em relação ao ano passado, de até 12%. De acordo com o vice-presidente da Abras, Márcio Milan, a projeção é um reflexo da recuperação da economia. Além disso, mesmo em relação a 2019 — última Páscoa antes da pandemia — as vendas de ovos também devem apresentar crescimento de até 5%.

“A indústria de ovos de Páscoa trouxe mais de 100 novos lançamentos e novidades aos consumidores, além de outras estratégias como as novas embalagens, que possibilitaram mais formas de exposição dos produtos. Antes os ovos ficavam só nas parreiras, as pessoas olhavam e viam só o fundo. Agora, se você observar, estão em ilhas e terminais de chocolates. Isso contribui para o aumento do consumo”, explica Milan.

Ovo ou barra?
Todo ano ressurge a velha discussão sobre o que vale mais a pena: ovos ou barras de chocolate? Para driblar a perda de poder aquisitivo do consumidor e garantir as vendas na primeira Páscoa depois da redução das restrições impostas pela pandemia desde 2020, as marcas estão apostando nas lembrancinhas, como as barras, bombons e até cestas de chocolate.

A professora Ana Rita Trindade, 60 anos, já optou pelas barras ou caixas de chocolate. Para ela, os preços dos ovos de Páscoa estão caros demais para presentear. “Está tudo muito caro. Um ovo que eu comprava antigamente por R$ 20, hoje está R$ 60 ou R$ 70. Aí não vai ter para todo mundo que eu gostaria. De repente até uma barra de chocolate é melhor, é mais barato. O ovo em si não está valendo a pena”, avalia.

Ela afirma que até chegou a fazer pesquisas, mas tem tido dificuldades em encontrar um produto de qualidade e com preço acessível. “Tem que procurar muito para achar uma coisa razoável, não é nem barata, porque barato não tem mais. E também tem que ver a qualidade do chocolate, porque, às vezes, você compra um com preço inferior mas a qualidade dele não compensa”, aponta.

De acordo com um levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), o ovo de Páscoa está na preferência de 46,18% dos consumidores. Em seguida, vem os chocolates e trufas, com 37,75%. As cestas de café da manhã são a terceira opção, ficando com 16,7%.

O economista William Baghdassarian, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), explica que o aumento é causado por conta de uma alta cambial desde o começo do ano. “O chocolate vem de uma commodity internacional, que é o cacau cotado em dólar. Quando os ovos foram feitos, os produtores encontraram o preço do cacau alto, só agora que o dólar está caindo”, aponta.

Para tentar economizar, o especialista aconselha que as famílias que entenderem que o valor do ovo de Páscoa está muito acima do que podem arcar, busquem alternativas, como fazer ovos em casa e procurar pequenos produtores locais, os quais costumam vender chocolates artesanais com valores mais acessíveis. “A pesquisa pode ajudar a encontrar preços melhores, mas não muda muita coisa porque está tudo muito caro. Mas as pessoas podem ser criativas. Fazer em casa é até uma oportunidade para ter um momento em família, com os filhos, criar memórias”, completa Baghdassarian.

A chefe de cozinha Anna Luísa Ferreira de Araújo, 32, é uma das brasilienses que já produziu os ovos em casa, com a filha de 15 anos, o que resultou em boas memórias. Atualmente, a adolescente não gosta tanto de chocolate e o filho caçula, de apenas um ano, ainda não come doce, então, a produção é para presentear. “Está um absurdo o preço dos ovos de Páscoa. Para tentar driblar a gente busca também esses de produção caseira, que é muito mais gostosa e vale mais a pena”, afirma.

Aumento nas vendas
A pesquisa feita pelo Instituto Fecomércio-DF sobre as vendas durante a Páscoa revelou, ainda, que, apesar do aumento no valor dos chocolates, o comércio espera por um aumento de 18,08% em relação ao ano passado. O levantamento aponta que para 42,91% dos lojistas a data será melhor neste ano se comparada com 2021. De acordo com os dados, houve queda na percepção negativa sobre a data comemorativa. Atualmente, apenas 2,4% dos lojistas acham que o período será pior que no ano passado. Em 2021, a sensação de que os negócios não iriam bem atingiu 13,40% dos comerciantes.

“O que estamos vendo hoje é o reflexo do avanço da vacinação. Esse processo de retomada da economia no comércio se deu a partir do momento em que as pessoas passaram a se sentir mais seguras para sair de casa, e os comerciantes mais otimistas para planejarem seus negócios”, analisa José Aparecido Freire, presidente da Fecomércio-DF.

Outro índice apontado na pesquisa que animou o comércio foi referente ao valor médio a ser gasto pelos consumidores, que registrou alta. Para quem vai comprar um presente, o orçamento planejado gira em torno de R$ 149,16. No ano passado, os consumidores previam gastar R$ 99,83. A variação nesta medição ficou em torno de 49,41%. Já os lojistas esperam que o valor médio da compra passe de R$ 81,43 (2021) para R$ 148,67 (2022) — variação positiva de 82,6%.

O índice de consumidores que pretendem presentear alguém durante a Páscoa também aumentou. Passou de 60,79% (2021) para 66,86% (2022). Entre os 33,14% dos entrevistados que não possuem a intenção de presentear na Páscoa de 2022, destaca-se que 40,59% alegam dificuldade financeira para comprar presentes. Outros 34,71% disseram estar desempregados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CB

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