O fim trágico do policial federal Lucas Soares Dantas Valença, de 36 anos, que ficou famoso e conhecido como o Hipster da Federal após a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, em 2016, tomou conta do noticiário. Conforme revelou a coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, o policial foi morto a tiro na noite dessa quarta-feira (2/3) no Povoado Santa Rita, em Buritinópolis (GO), no nordeste goiano. De acordo com a advogada da família, ele enfrentava a depressão.
A investigação, até o momento, já conseguiu elencar uma sucessão de elementos que desencadearam a morte de Lucas. Ele foi atingido por um tiro abaixo do peito, após invadir uma casa no pequeno povoado, por volta das 23h30, em estado de surto, conforme apontaram familiares à polícia.
O Metrópoles teve acesso aos depoimentos de testemunhas e pessoas envolvidas no caso e relaciona abaixo o que aconteceu com o policial.
Lucas estava com a família (mãe, padrasto e o irmão, que fazia aniversário) curtindo o feriado de Carnaval em uma propriedade rural localizada em Mambaí (GO), vizinha de Buritinópolis, onde tudo ocorreu.
Segundo a advogada da família, Sindd Campos, ele enfrentava depressão, iniciada durante a pandemia.
Na noite de segunda-feira (28/2), o policial saiu para caminhar pela região, mas teria tido um surto psicótico e não conseguiu achar o caminho de volta. Ele estava desarmado e sem telefone celular.
Gritos: “Quadrado do capeta”
Dois dias depois, nessa quarta-feira (2/3), por volta das 23h, Lucas surgiu em uma das ruas do Povoado Santa Rita, em Buritinópolis, gritando em frente a uma casa.
O proprietário da residência, o auxiliar de almoxarifado Marcony Pereira dos Anjos, de 29 anos, já estava dormindo, na companhia da esposa, Natália Batista Silva, 20, e da filha de 3 anos.
Lucas gritava que iria cuspir no chão da área da casa e fazer uma cruz para indicar que o capeta estava lá. Ele gritava, ainda, que quem estivesse lá dentro faria parte do “quadrado do capeta”.
Marcony e Natália acordaram com os gritos do policial e com os latidos da cachorra, mas o homem achou que fosse discussão de rua e que logo passaria, porque havia acontecido uma briga entre ciganos em um bar próximo ao rio Buriti, a 2 Km da casa.
Em determinado momento, o policial chegou a pedir desculpas por cuspir no chão da residência e disse que se sentaria numa cadeira na área.
Silêncio por 20 minutos
Instantes depois, um primo de Natália passou de carro pela rua, e Lucas saiu assoviando e correndo atrás do veículo. O casal deduziu que fosse o primo dela, por causa do barulho do escapamento furado. Em seguida, Marcony entrou em contato com ele por telefone e confirmou a suspeita.
Por cerca de 20 minutos, o silêncio voltou a reinar na rua, e a família retomou o sono. O casal, cuja filha de 3 anos já estava amedrontada a essa altura, achou que estava tudo resolvido.
O policial, no entanto, ressurgiu na propriedade, e Natália foi acordada, novamente, pelo barulho dos passos dele do lado de fora.
Ela alertou o marido, e Marcony foi até o outro quarto, onde municiou e deixou preparada uma espingarda (arma de pressão modificada calibre .22).
Mais gritos: apagão e ameaça
Lucas Valença voltou a gritar do lado de fora e fez ameaças contra a família. Segundo o depoimento de Natália, ele dizia que se ninguém abrisse a porta, ele iria entrar e matar todo mundo.
Do lado de dentro, Marcony chegou a alertá-lo:
“Moço, eu tô armado. Não entra, não!”
Mas de nada adiantou.
Lucas começou a quebrar o padrão de energia elétrica da casa, arrancou o cadeado e o desligou, deixando tudo no escuro. Segundos depois, ele correu em direção à porta e a arrombou com o pé. A filha do casal ficou aterrorizada.
A única luz que iluminava o local era a do poste da rua. De relance, Marcony viu que Lucas partiu na direção dele e, para se defender, disparou a arma.
Caído do lado de fora
O auxiliar deu um único tiro, que atingiu o policial em um ponto abaixo do peito.
Ferido, Lucas correu para o lado de fora da casa e caiu ao chão, respirando ofegantemente. Ele gritou por ajuda e disse que era policial.
Marcony também correu para religar o padrão da energia e, para não ficar sozinho no local, chamou um tio que mora perto, pois estava com medo. Ele acionou a polícia, em seguida, e alertou a PM que levasse, junto, uma ambulância, pois havia um homem ferido.
Confirmação da morte
Assim que a polícia e a ambulância chegaram ao local, cerca de 30 minutos depois do ocorrido, foi confirmada a morte de Lucas.
Marcony e a família foram levados para a delegacia de Posse (GO), onde foi feita a lavratura da ocorrência. O homem foi autuado por posse ilegal de arma e pagou fiança de R$ 2 mil.
O delegado plantonista, Adriano Jaime Carneiro, entendeu que não houve motivo para autuá-lo por homicídio, pois o pai de família agiu em legítima defesa.
O inquérito do caso seguirá em andamento, sob responsabilidade do delegado Alex Rodrigues, de Alvorada do Norte.
Primeiro surto
Segundo a família, esta foi a primeira vez que Lucas demonstrara estar em surto psicótico.
A família entendeu que não houve excesso por parte de Marcony, que teve a casa invadida e atirou contra o policial.
“O Lucas estava passando por uma depressão, iniciada na pandemia. Ele era conhecido por ter o coração gigante. Cuidava de animais, era extremamente sensível e muito querido na polícia. Muito estudioso, ele passou em primeiro lugar no concurso da PF”, contou a advogada da família ao Metrópoles.
O velório do policial está marcado para começar às 8h desta sexta-feira (4/3), na Capela 6 do Cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Será um velório rápido, até as 10h. O sepultamento será às 10h30.
Metrópoles