Um ônibus com 49 passageiros caiu de uma ribanceira na BR-153, em Aparecida de Goiânia, durante a madrugada de sexta-feira (24), véspera de Natal. O acidente causou a morte de seis pessoas e deixou outras dezenas de feridos. A Polícia Civil investiga o caso e quais são as possíveis causas da tragédia. Em meio a especulações, as famílias das vítimas pedem justiça e querem saber quem é o responsável pelo acidente.
O ônibus envolvido no acidente é de responsabilidade da empresa Real Expresso. O veículo saiu de São Paulo, capital, e tinha como destino final Brasília. Contudo, por ser tratar de um trajeto longo, o ônibus parou em diversas cidades, realizou a troca de motoristas e permitiu a entrada de mais passageiros ao longo do trajeto.
O condutor que dirigia o veículo no momento do acidente é Edimar Carlos da Mota. Ele assumiu a viagem na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, por volta das 19h30. Ao chegar em Goiânia, um outro motorista deveria assumir a viagem, segundo ele.
Em Araguari, Minas Gerais, Edimar diz ter se deparado com um problema nos freios do ônibus. Ele informou a situação através de um áudio enviado em um grupo da empresa Real Expresso.
“Estou saindo de Araguari, Minas Gerais, seguindo para Brasília. Observação: Muita chuva e o carro está com problema de freio, freando só de um lado. A gente está indo no sapatinho para evitar transtornos maiores”, diz o motorista na mensagem.
Ao chegar em Aparecida de Goiânia Edimar se deparou com dois novos problemas. Isso porque, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e conforme ele mesmo, chovia muito no momento do acidente. O que, naturalmente, dificulta a direção dos veículos.
As chuvas fortes, inclusive, foram as responsáveis por abrir uma cratera em um trecho do KM-508 da BR-153, em Aparecida de Goiânia. O local, que é de responsabilidade da Triunfo Concebra, está interditado desde o último dia 6 de dezembro. Por isso, nas proximidades há um desvio contingencial em razão de obras na pista.
Por motivos ainda investigados, Edimar não notou a sinalização, invadiu a divisão entre as pistas da rodovia, que está funcionando em sentido de mão dupla, bateu na lateral de uma viatura da concessionária Triunfo Concebra e de frente com uma carreta. O trânsito no local ficou interrompido das 2h às 12h. O ônibus foi retirado do córrego por volta de 10h30.
Segundo a Triunfo Concebra, 46 pessoas estavam envolvidas no acidente, sendo seis mortos dentro do ônibus, cerca de 40 feridos dentro do ônibus e o motorista do caminhão ferido. Edimar também se feriu.
Um número incerto de vítimas com ferimentos leves foram encaminhadas ao Hospital de Urgências de Goiânia e ao Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). Outros, foram para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e outros para o Hospital Estadual de Aparecida de Goiânia Caio Louzada (HEAPA).
A idosa Sueli Ilário, de 68 anos, é uma das sobreviventes. Ao Mais Goiás, a irmã dela, Aparecida Ilário, disse que a Sueli decidiu viajar de última hora, pois estava com medo de acidentes. “Esse ano o natal vai ser diferente. Mas graças a Deus ela está viva, está bem. Só muito assustada ainda”, desafaba a irmã.
A Superintendência de Polícia Técnico-Científica informou que entre os óbitos reconhecidos estão Aparecida Ribeiro, Lourival José dos Santos, Maria Eunice da Silva Santos, José Joaquim Macedo Santos e Fabiana Tomussi Quirino Xavier. Há ainda a sexta vítima, que não teve a identidade revelada.
Wylla, filha de Aparecida, ficou durante o dia todo procurando pela mãe. Mas, somente na manhã do dia de natal (25), foi que recebeu a notícia de que o corpo de Aparecida havia sido encontrado no leito do Córrego Santo Antônio.
Depois do acidente a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito (Dict), esteve no local. O caso está sendo investigado pela delegada Adriana Fernandes.
Ainda na sexta-feira (24), peritos realizaram uma perícia no ônibus e na rodovia. De modo geral, estão sendo apuradas quais as possíveis causas do acidente, segundo a polícia. Entre as hipóteses estão: falha humana, falha mecânica, má sinalização e condições do tempo.
A Polícia Civil exigiu que a Real Expresso apresente explicações sobre o acidente envolvendo um ônibus da companhia. Segundo a delegada, a empresa deverá apresentar a cartela de horários do motorista Edimar. O objetivo é entender se o condutor do ônibus estava tendo excesso de carga de trabalho, em especial, durante o turno da noite.
A Real Expresso não deu explicações, até o momento da publicação desta reportagem, sobre esse assunto.
Um outro ponto analisado pela polícia é a possibilidade de falha mêcanica, por isso, pediu uma nova perícia no ônibus. Como mencionado, Edimar se deparou com um problema nos freios do ônibus e informou a situação através de um áudio enviado em um grupo da empresa Real Expresso. A delegada busca entender se a mensagem enviada pelo motorista chegou ao conhecimento de funcionários aptos a tomarem providências de segurança.
“Queremos saber se esse grupo é formado apenas por motorista. Tudo leva a crer que é um grupo com outros funcionários da empresa, aptos a tomar as atitudes corretas quando o motorista reclamou dos freios, aptos a interromper a viagem, fazer a troca do ônibus por outro e etc, providências que melhorassem a segurança da viagem”, declarou a investigadora.
Há pouco mais de um mês, Aparecida Ribeiro, que morreu no acidente, havia viajado com a mesma companhia. Na época, um outro motorista comentou com ela sobre um ônibus da mesma linha que estava com “uns probleminhas”. Na ocasião comentou sobre a situação com a filha.
“Dizendo o motorista que a gente chega aí 00h30. Eu acho que não! Ele disse que o ônibus tá com um probleminha aí e que vai andar mais devagar para tentar chegar aí. Vamos ver, né?”, diz Aparecida no áudio, um mês antes do acidente em que morreu.
Sobre isso a Real Expresso se manifestou. Segundo a companhia, o veículo envolvido no acidente não apresentou nenhum problema mecânico ou técnico, e já havia percorrido mais de mil quilômetros desde São Paulo, sem apresentar qualquer problema.
Ainda segundo a empresa, todos os veículos da frota são submetidos a um rigoroso programa de inspeção e de manutenção antes de todas as viagens, onde todos os itens de segurança são checados, como sistema de freios, pneus, luzes, sistemas de alarmes e controle de tração e frenagem, e somente são liberados para a viagem depois que a engenharia técnica libera.
A filha de Aparecida, Wylla, questiona. “Se sabia que estava com defeito no freio, porque não fez nada? Alguém tem culpa nisso. Essa falha foi crucial pro acidente acontecer”, indaga.
A investigação também apura sobre a má sinalização na rodovia a respeito do desvio. A investigadora afirma que o local recebia sinalização com cones e a própria viatura que acabou envolvida no acidente. “A sinalização é importante. Sobretudo em uma rodovia deste porte”, aponta.
No entanto, o motorista do ônibus diz o contrário. Edimar alega que não havia nenhum tipo de sinalização quilômetros antes do acidente, que indicasse o desvio ou a interdição na rodovia. “Do nada só senti tumulto de cone, obra, caminhão parado e não vi sinalização pra trás. Aí senti o impacto. Pela minha experiência, sinalização deve ocorrer a cada quilômetro pra trás da obra e dessa vez não tinha. […]. Quando eu vi já tava em cima. desviei pra direita, que era onde tinha espaço sem gente trabalhando (sic)”, relatou o motorista. A Real Expresso confirma a versão do motorista. A empresa afirma que a via não estava sinalizada e, por isso, o acidente aconteceu. A companhia nega que o veículo estivesse em velocidade acima da permitida.
“A causa do acidente foi a falta de sinalização adequada da pista, que encontrava-se bloqueada por conta de um buraco. A sinalização limitava-se à alguns cones muito próximos ao bloqueio sem qualquer informação anterior (200 metros) para o motorista que trafegava na rodovia. A Real Expresso informa ainda que o veículo estava respeitando os limites de tráfego”, disse em nota.
A sinalização do desvio no KM-508 deveria estar a, pelo menos, um quilômetro do trecho desviado, segundo as normas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A análise foi feita pelo professor do Instituto Federal Goiano (IFG), especialista e engenheiro de trânsito, Marcos Rothen. “A área de advertência é uma área ou distância que antecede o local da interdição onde o motorista deve ficar atento e começar a diminuir a velocidade.”, afirma Marcos.
Em contra partida, a Triunfo Concebra, que é responsável pela rodovia, afirma que o local está devidamente sinalizado. No entanto, não respondeu sobre até onde ia a sinalização. A reportagem aguarda a resposta.
“A Triunfo Concebra reforça a recomendação aos motoristas que vão pegar a BR-153 saindo de Goiânia para destinos no sentido sul do estado ou mesmo aqueles que chegam à capital goiana, que redobrem a atenção ao passar pelo km 508. O local está sinalizado com painéis eletrônicos nas proximidades informando o desvio contingencial em razão de obras na pista, contando ainda com cones refletivos, dispositivos luminosos e diversas viaturas com sinalização intermitente para orientação e suporte aos usuários”, disse somente sem responder aos questionamentos.
Sobre a iluminação pública, a concessionária esclarece que a responsabilidade não compete à empresa. “A concessionária ainda lamenta o ocorrido e presta solidariedade aos envolvidos e às famílias”, diz a nota.
Como já mencionado, chovia no momento do acidente. A Polícia Civil averigua também se somente essa circunstância seria capaz de causar o acidente.
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